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Cientistas descobrem superbactéria brasileira

Uma variante da bactéria multirresistente 'Staphylococcus aureus' foi identificada por pesquisadores brasileiros e americanos no Hospital das Clínicas de São Paulo. Seu descobrimento é um alerta para o crescimento da resistência a antibióticos no país

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h30 - Publicado em 22 abr 2014, 19h02
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  • Cientistas brasileiros e americanos encontraram no Brasil uma nova superbactéria do tipo VRSA (Vancomycin Resistent Staphylococcus aureus). Além de ser multirresistente a antibióticos, o que é inédito nessa variante é seu material genético, herdado de bactérias encontradas fora de hospitais. A descoberta foi publicada na última semana em um artigo no periódico The New England Journal of Medicine.

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    Título original: Transferable Vancomycin Resistance in a Community-Associated MRSA Lineage

    Onde foi divulgada: periódico The New England Journal of Medicine

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    Quem fez: Flávia Rossi, Lorena Diaz, Diana Panesso, Sandra Rincon, Denise Brandão, Cesar A. Arias e outros

    Instituição: Universidade de São Paulo, Universidade do Texas e Universidade Columbia, nos Estados Unidos

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    Resultado: Os pesquisadores encontraram no Brasil uma nova superbactéria do tipo VRSA (Vancomycin Resistent Staphylococcus aureus), que tem material genético herdado de bactérias encontradas fora de hospitais.

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    Batizada de BR-VRSA (Vancomycin Resistent Saphylococcus aureus), a bactéria foi encontrada na corrente sanguínea de um paciente de 35 anos internado em agosto de 2012 no Hospital das Clínicas de São Paulo. O homem sofria de um tipo de câncer de pele e, pouco tempo depois, foi infectado pela Staphylococcus. Os médicos do hospital perceberam que ele tinha a versão resistente da bactéria, chamada MRSA (Methicillin Resistant Staphylococcus aureus). Ao usarem o tratamento mais comum para essa bactéria, um antibiótico chamado vancomicina, o paciente não respondeu. Foi quando os cientistas perceberam que ele estava infectado com um tipo ainda mais resistente da bactéria, a VRSA. Tratado a tempo com medicamentos alternativos, a infecção foi vencida. Quatro meses depois, o paciente morreu por outras causas.

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    Ao analisar o material genético da bactéria, os cientistas viram que estavam diante de uma nova variante da VRSA, um micro-organismo raro, descrito pela primeira vez nos Estados Unidos em 2002. Até então, os 13 micro-organismos desse tipo detectados em todo o mundo vinham de infecções de pele, a doença mais comum causada pela bactéria, e seu material genético era herdado de micro-organismos hospitalares. A BR-VRSA, por sua vez, foi encontrada em uma infecção da corrente sanguínea e seu DNA está relacionado a micróbios encontrados fora de hospitais.

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    “Isso ainda não tinha sido visto em nenhuma parte do mundo. Uma das possibilidades para o surgimento dessa variação é que ela tenha adquirido o gene de resistência de uma bactéria chamada Enterococcus, que está se tornando comum nos pacientes hospitalizados no Brasil”, diz Flávia Rossi, uma das autoras do estudo.

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    Mais estudos – Para descrever a nova bactéria, os pesquisadores brasileiros buscaram universidades americanas que possuem pesquisas relacionadas à MRSA na América Latina. Além da Universidade de São Paulo, o estudo envolve cientistas da Universidade do Texas e da Universidade Columbia, nos Estados Unidos. Em conjunto, os cientistas pretendem entender como a nova bactéria apareceu em São Paulo. O micro-organismo provavelmente não viajou no corpo do paciente, como aconteceu com a NDM-1, mas se desenvolveu aqui, agregando diferentes tipos de resistência de outros micro-organismos.

    Os pesquisadores indicam no artigo que o aparecimento da nova superbactéria mostra que a resistência microbiana no país é uma questão de saúde pública. Em todo o mundo, os piores tipos de resistência surgiram em bactérias associadas ao ambiente hospitalar. “É um alerta. Essa nova resistência deve gerar estudos de vigilância microbiológica para que possamos monitorar novos casos e ter informações sobre eles”, afirma Flávia.

    No Brasil, ao contrário de outros países, não há um laboratório para centralizar ações epidemiológicas, a exemplo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês). Isso faz com que ainda não haja informações nacionais sobre o número de infecções por bactérias resistentes ou o desenvolvimento dos casos existentes.

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    “Esse é um tipo muito raro de bactéria, pouco comum em todo o mundo. Como ela foi descrita há alguns anos, há opções para o seu tratamento”, explica a infectologista Ana Cristina Gales, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma das autoridades no país no estudo de resistência bacteriana. “No entanto, é importantíssimo conhecer essas novas variantes e saber como elas funcionam.”

    Causas – Entre os fatores que podem ter levado ao surgimento da nova bactéria está o uso abusivo de antibióticos no país – muitas vezes esse medicamento é receitado para doenças causadas por vírus. Isso faz com que, pouco a pouco, bactérias mais resistentes sejam selecionadas pelos remédios e seu tratamento se torne mais difícil. Além disso, ainda há falta de conhecimento do mecanismo de resistência bacteriana por médicos e pela população e a pouca infraestrutura de laboratórios hospitalares.

    “Precisamos que os laboratórios estejam sempre equipados e contem com pessoas competentes, a todo o momento, para realizar a análise das bactérias encontradas na população. Só assim poderemos agir a tempo e evitar a morte dos pacientes”, afirma Flávia.

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