Eva Ottosson, uma britânica de 56 anos, está prestes a se tornar a primeira mulher a doar o útero para um transplante. A receptora será sua filha, Sara, de 25 anos, que nasceu sem o órgão reprodutivo. Com a operação, os médicos esperam que Sara consiga engravidar e gerar o filho no mesmo útero em que nasceu. A complexa cirurgia deve ocorrer daqui um ano, na Suécia, onde médicos da cidade de Gotemburgo vinham avaliando pacientes adequadas para a realização do procedimento.
Há, porém, opiniões contrárias ao procedimento. Artur Dzick, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, diz que o transplante representa um risco muito elevado. “Se houver rejeição ou mesmo se o transplante não der certo, ela perde a oportunidade de gerar o filho dentro da barriga da mãe dela”, diz. Para o médico, apenas transplantes de órgãos vitais, como coração e córneas, deveriam ser realizados. “O útero não é um órgão vital, você pode substituir esse transplante por um útero de substituição, por exemplo.”
O útero de substituição, vulgarmente conhecido como barriga de aluguel, é um processo ético e reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), no Brasil. “Ele é autorizado para parentes de primeiro grau, o caso das britânicas, e não deve ter fins lucrativos”, diz Dzick. Nele, o embrião fertilizado é implantado no útero de uma parente de primeiro grau, que irá gerar a criança. Com o transplante do útero de Eva, no entanto, Sara irá perder a oportunidade de gerar o filho dentro da barriga da mãe.
Em entrevista à rede britânica BBC, Eva reconheceu o risco e disse que, caso o procedimento não tenha sucesso, a filha deve optar pela adoção de uma criança. “Eu e minha filha somos pessoas racionais. Nós duas acreditamos que é apenas um útero”, disse ao jornal The Telegraph.
Transplante – De acordo com Mats Brannstrom, coordenador da equipe médica sueca, o transplante de útero é uma das operações mais complexas da medicina. “A dificuldade do procedimento é evitar hemorragias e se certificar de que existem vasos sanguíneos suficientes para ligar o útero. E estaremos trabalhando na pélvis, uma região de difícil acesso”, diz.
Caso o procedimento dê certo, e após passada a fase de recuperação, os óvulos de Sara serão fertilizados com espermatozoides do namorado. Em seguida, os embriões serão implantados dentro do seu útero transplantado. Se houver sucesso no processo, ela estará apta a gerar o feto sem riscos previamente estabelecidos.
Caso anterior – A única tentativa anterior de se realizar um transplante de útero aconteceu na Arábia Saudita, em 2000. Na ocasião, uma mulher de 26 anos recebeu o útero de outra mulher já falecida, que tinha 46 anos. O órgão precisou ser removido 99 dias mais tarde, por causa de complicações por hemorragia e coágulos.