Anvisa registra kit de diagnóstico da Fiocruz para febre maculosa
Teste proporciona diagnóstico mais rápido e específico do material genético da bactéria causadora da doença, transmitita pelo carrapato-estrela
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrou, nesta segunda-feira 3, o primeiro kit de biologia molecular desenvolvido no Brasil para detecção do material genético de bactérias causadoras de rickettsioses, em especial, da febre maculosa e tifo. A tecnologia da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) possui elevados níveis de especificidade (94%) e de sensibilidade (100%).
O kit será produzido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e deve suprir demanda do Ministério da Saúde para ajudar em diagnósticos da febre maculosa, uma doença infecciosa febril aguda não contagiosa, que pode causar desde formas assintomáticas até casos mais graves, e que recentemente causou infecções e óbitos na região de Campinas, em São Paulo, acendendo alerta das autoridades médicas e de saúde e chamando a atenção da população para a doença. “Trata-se de mais uma entrega da Fiocruz, como instituição de ciência e tecnologia no campo da Saúde, oferecendo respostas rápidas a problemas de Saúde Pública e contribuindo para o fortalecimento do [Sistema Único de Saúde] SUS,”, disse Mario Moreira, presidente da Fiocruz.
Criado pelo Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o kit Biomol Rickettsioses proporciona o diagnóstico laboratorial mais rápido e específico, na fase inicial da febre maculosa, quando ainda não há anticorpos detectáveis que permitam a confirmação da doença por meio de testes sorológicos.
Como o tratamento da infecção deve ser iniciado imediatamente, o teste ajudará a amenizar o problema de diagnóstico da doença, que tem alta taxa de mortalidade. “Os elevados níveis de especificidade e sensibilidade do teste vão ao encontro da atual necessidade de uma vigilância mais robusta da febre maculosa e outras rickettsioses, possibilitando ações mais efetivas e oportunas ”, diz Elba Lemos, pesquisadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz.
No Brasil, a febre maculosa que mais gera casos graves de alta letalidade está associada à infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela.
Segundo dados do Ministério da Saúde e de Secretarias Estaduais de Saúde, entre 2000 e 2022, a doença provocou 2.636 infecções, com 920 óbitos. Em 2023, o país registrou, até junho, 49 casos e 6 mortes. O Boletim Especial – Doenças Tropicais Negligenciadas, publicado pelo Ministério da Saúde em março de 2021, indica que, no período de 2010 a 2020, a febre maculosa foi mais frequente em homens 71%, na faixa etária economicamente ativa de 20 a 39 anos. Dos casos confirmados, 63% foram hospitalizados. O local provável da infecção mais relatado pelos casos confirmados foi a zona rural com 45%.
A maioria das pessoas acometida pela doença relata contato com carrapatos e terem frequentado ambientes de mata, rios e cachoeiras. A maior concentração de casos é nas regiões Sudeste e Sul, onde de maneira geral ocorre de forma esporádica como casos isolados ou pequenos surtos.