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O povo sofre antes

Trump retoma as sanções contra Teerã para obrigar aiatolás a aceitar um novo acordo nuclear. A população será atingida pela repressão e pela crise econômica

Por Thais Navarro
Atualizado em 30 jul 2020, 20h13 - Publicado em 10 ago 2018, 07h00

No palco da política externa, o presidente americano Donald Trump tem cumprido zelosamente suas promessas eleitorais. Há três meses, ele retirou os Estados Unidos do acordo entre seis potências mundiais e o Irã que obrigava os persas a congelar o programa nuclear. Coerente com essa canetada, reimpôs na terça-feira 7 as sanções econômicas unilaterais que estavam suspensas havia três anos. O comércio de ouro, alumínio, aço e outros minérios, assim como as transações com o rial, a moeda local, foi vetado entre os dois países. O petróleo, o principal produto de exportação do Irã, não foi incluído nesse primeiro pacote, mas certamente entrará no segundo, que deve ser posto em prática no início de novembro.

A etiqueta das sanções internacionais manda que, no jogo de pressões, se deve sempre tentar atingir o topo da pirâmide do regime em tela, nunca a população. Trump parece não dar muita bola para essa cartilha. “O Irã está muito pobre. As pessoas já sofrem e vão penar ainda mais com as sanções”, diz o analista americano John Forrer, da Universidade George Washington. O fim do acordo nuclear e a retomada dos castigos levaram diversas grandes empresas que recentemente tinham voltado a negociar com o Irã a abandonar o país, com medo de não poderem mais fechar contratos nos Estados Unidos. Ao menos dez grandes companhias, entre elas a Boeing, a Siemens e a Peugeot, retiraram-se do Irã. Desde abril, o rial perdeu quase metade de seu valor em relação ao dólar. O desemprego bateu em 11% e a inflação prevista para este ano deve chegar a 12%. “O Irã não consegue lutar contra os Estados Unidos. As pessoas estão chorando nas ruas. Estamos em uma crise muito séria”, diz o iraniano Hooshang Amirahmadi, presidente do Conselho Iraniano-Americano, em Princeton.

A esperança é que, com o cotidiano debilitado, a população pressione o governo dos aiatolás, que pode vir a permitir a entrada de algum oxigênio. A maior parte dos jovens vê com repulsa a teocracia que assumiu o poder na Revolução Islâmica, em 1978. Desde os últimos dias do ano passado, uma onda de protestos se alastrou por mais de oitenta cidades. “Se não houver progresso, a segregação econômica de parte da população se intensificará e a oposição ganhará força”, diz o turco Selçuk Colakoglu, professor de relações internacionais na Universidade Yildirim Beyazit, em Ancara. No início, as queixas eram em relação ao preço do ovo. Logo depois vieram reclamações contra os blecautes e a falta de água para irrigar lavouras. Com o tempo, os manifestantes começaram a fazer críticas mais diretas. Eles pedem abertamente a renúncia do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Entre os slogans mais comuns estão “abaixo o ditador”, “morte ao presidente Hassan Rouhani” e “abaixo a República Islâmica”.

A repressão que se seguiu deixou 25 mortos e mais de 4 000 presos. A brutalidade é sempre uma reação dos aiatolás quando se sentem acuados. Outra é elevar o tom das ameaças internacionais. “A paz com o Irã seria a mãe de todas as pazes. Uma guerra com o Irã seria a mãe de todas as guerras”, disse o presidente Rouhani em um discurso para a televisão. “Não brinque com o rabo do leão, ou você vai se arrepender”, ameaçou o iraniano. O medo de que a rebelião popular saia do controle pode até levar os clérigos a voltar à mesa de negociações internacional. Ou, então, pode fazê-los iniciar a tal mãe de todas as guerras.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595

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