Já virou rotina. Os eventos promovidos pela Apple para apresentar seus novos produtos mobilizam meio mundo e se pautam pelo tom apoteótico. Foi o que se viu na terça-feira 12, no Steve Jobs Theater, espaço envidraçado montado no novíssimo câmpus da empresa no Vale do Silício, na Califórnia, a ser oficialmente inaugurado ainda neste ano. O show começou com uma homenagem a Jobs, o fundador da marca, morto em 2011, de câncer. Disse o CEO Tim Cook: “O espírito de Steve será sempre o DNA da Apple”. É verdade que a imagem da companhia continua atrelada à de seu criador — o pai do Apple II (o primeiro PC comercial), do iPod, do iPhone, do iPad. Mas é fato também que desde sua morte a Apple encontra dificuldade para exibir novidades estarrecedoras. O evento do dia 12 foi prova disso.
Nele foram apresentados um novo relógio Watch, uma Apple TV e atualizações para o iPhone 8 — todos sem progressos notáveis, com inovações que já haviam sido exibidas pela concorrência. O esforço da empresa para causar ao menos algum impacto ficou por conta da apresentação do iPhone X. Trata-se de um modelo com preço alto — a partir de 999 dólares, nos Estados Unidos —, que chegará às lojas em novembro.
O que o X tem de tão estupendo para custar 200 dólares mais que o iPhone 8 Plus e quase 30% mais que o iPhone 7 Plus, top de linha, em seu lançamento, em 2016? São dois os destaques, mas ambos foram apresentados antes por rivais, como a sul-coreana Samsung. Primeiro, a tela sem bordas, que preenche a frente do aparelho e extermina o tradicional botão “home” do celular. Segundo, a tecnologia de reconhecimento facial, com a qual se pode, apenas olhando para o display, destravar o smartphone, fazer pagamentos por aplicativos bancários, transformar a própria face em emojis, aqueles símbolos tão usados na comunicação on-line, as caretinhas onipresentes no WhatsApp.
Muito mais que uma novidade tecnológica, o X pode ser visto como fruto de um posicionamento esperto da Apple. A marca da maçã, além de referência em inovação, sempre foi celebrada como ícone fashion. Com o X, a empresa põe o lado narcisista da clientela como seu principal alvo: ele é o aparelho ideal para realizar selfies, na Era das Selfies (há fenômeno mais egocêntrico que esse?!). E ainda usufruir os popularíssimos autorretratos — posta-se 1 milhão deles por dia na internet — em diversas situações práticas. Sairá caro? Sim, mas e daí? Afinal, o X se apresenta como um produto da moda cujo intuito também é ser motivo de inveja para todos os que não o possuem. Por tudo isso, cai bem a ele o apelido de “ego phone”.
Publicado em VEJA de 20 de setembro de 2017, edição nº 2548