Do alto de um trio elétrico na região central de Porto Alegre, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, comemorava a rua repleta de camisas vermelhas, na véspera do julgamento do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). “Conseguiram o impeachment de Dilma porque nós estávamos desorganizados. Mas agora nos reunimos de novo.” De fato, o PT e movimentos aliados levaram às ruas um contingente bem maior que os poucos manifestantes pró-Dilma Rousseff que desfilaram pela Avenida Paulista na época do impeachment.
Tratava-se, porém, de um feito mais aparente do que real. A massa vermelha que percorreu as principais ruas da capital gaúcha era composta quase exclusivamente de entidades historicamente alinhadas com o partido — como CUT, MST, MTST — e começou a se dispersar logo no início da tarde da quarta-feira 24, depois do voto do desembargador João Pedro Gebran Neto. “A viagem é longa até Joinville, por isso não vale a pena ficar até o final”, explicava Alcides Pires, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, antes de embarcar no ônibus rumo a Santa Catarina. O clima de Carnaval — com rodas de samba, venda de cerveja e distribuição de sanduíches de pernil — passou então a dar lugar a uma atmosfera de Quarta-Feira de Cinzas. Barracas começaram a ser desmontadas e o silêncio cresceu no ar.
O Carnaval da direita também não foi mais animado nem arrastou grandes públicos durante o julgamento. À frente dos grupos anti-Lula, os movimentos Brasil Livre e Vem Pra Rua, que já ajudaram a levar multidões às avenidas do país, mostraram pouca musculatura. Em São Paulo, a turma de verde e amarelo que ocupava a Avenida Paulista no horário da sessão não chegava a poucas centenas — e com presença forte de militantes. Fazia tempo na história recente que as ruas não diziam tão pouco.
Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2018, edição nº 2567