Quase todo mundo está preocupado com a alimentação. A combinação entre os alimentos, suas calorias, seus benefícios ou prejuízos, a praticidade e a rapidez no preparo, a sofisticação na apresentação de pratos, tudo sobre o assunto rende.
Rende programas de televisão, por exemplo. Aliás, dezenas deles.
Alguns se dispõem a ensinar receitas ou tipos de cardápio. Em pouco tempo em frente à TV, vemos desfilar os mais variados estilos de apresentadoras e apresentadores desses programas, tanto nacionais quanto internacionais, de forma que parece até simples aprender uma receita com eles. Não é impossível, mas fácil também não é.
Outros programas são competitivos. Com esses, eu aprendi a ficar um pouco mais distante de determinados restaurantes, porque não tenho gosto em comer uma refeição que sai de um local com tanta grosseria e gritaria.
Ah! A nossa alimentação, além desses programas, rende sites, blogs, vídeos, aplicativos e tudo o mais que couber na internet. E publicações. E escolas. E “coach culinário” e/ou “personal chef”. E pequenos e grandes estabelecimentos comerciais que vendem alimentos in natura, preparados, naturais ou o contrário disso. Nossa alimentação virou foi um grande negócio!
Enquanto isso, nossas crianças adquirem sobrepeso e apresentam problemas de saúde; alimentam-se mal, recusam a ampliação do acervo de sabores que já conhecem e ignoram as tradições culinárias da família a que pertencem.
Em compensação, conhecem intimamente quase todas as grandes marcas de fast-food e o nome dos restaurantes de chefs que ficaram famosos na TV e de pratos excêntricos. Por outro lado, não sabem usar faca na cozinha, tampouco conviver ao redor da mesa, em casa ou fora dela.
Nos restaurantes, o tal “cardápio kids” chega a ser ofensivo para com nossas crianças, de tão pobre que é.
Para terem mais saúde, as crianças precisam que alguém prepare as refeições carinhosa e especialmente para elas. O que dá apetite é sentir aquele cheiro gostoso de comida sendo feita em casa. Pode ser a mais simples, mas tem outro perfume, outro sabor. E, hoje, não exige muito tempo. É uma escolha, um estilo de vida.
É que tanto comida quanto bebida são mediadores sociais, ou seja, colaboram para que relacionamentos interpessoais — familiares ou não — se beneficiem de seu uso.
Não é à toa que em todas as festas oferecemos comida e bebida aos convidados, que grandes negócios são fechados em almoços, que casamentos são iniciados em torno de uma refeição.
Já divórcios e a extinção de negócios dificilmente ocorrem em torno de uma boa refeição, não é verdade?
Quando o assunto é comida, saúde e educação estão interligados e se aproximam da cultura, da arte, das tradições de uma família e de um povo. Entretanto, em nossa sociedade, trata-se de mais um hábito de consumo, só isso.
O que você oferece para aplacar a fome de seu filho, de sua família, ou a sua?
Publicado em VEJA de 18 de julho de 2018, edição nº 2591