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A dieta francesa

Macron entra no segundo ano de mandato com baixa popularidade, mas promete manter as reformas e criar o “Estado de bem-estar do século XXI

Por Giuliano Guandalini
Atualizado em 13 jul 2018, 06h00 - Publicado em 13 jul 2018, 06h00

Na terça-feira 10, Emmanuel Macron teve uma atitude ousada para um presidente com popularidade em queda. Foi até São Petersburgo, na Rússia, para torcer pela sua França na semifinal contra a Bélgica. Ao fim, a aposta deu certo. Os bleus bateram os diables rouges (veja a reportagem). A maior ousadia de Macron, entretanto, ocorreu um dia antes de embarcar. Na segunda-feira, em um discurso aos parlamentares, o presidente anunciou a sua intenção de ir adiante com o projeto de reformar o generoso sistema de proteção social de seu país. Prometeu acabar com os quarenta tipos de aposentadoria e fundi-­los em apenas um, dando fim aos privilégios de certas categorias profissionais. Acusado de governar para os ricos, Macron disse que sua prioridade no segundo ano de governo será criar as bases para estabelecer o “Estado de bem-estar social do século XXI”. Afirmou que o objetivo deve ser o incentivo ao mérito e ao esforço individual. “O primeiro pilar da política social deve ser a emancipação.” É um sinal de que não recuará diante da impopularidade dos ajustes propostos. Em sondagem recente, constatou-se que três quartos das pessoas ouvidas consideram as reformas “injustas”.

No Parlamento, porém, o presidente continua colhendo vitórias. Em pouco mais de um ano de governo, aprovou projetos para diminuir os tributos para as empresas e reduzir a rigidez nas regras do mercado de trabalho. Os sindicatos foram para as ruas, e as greves se sucedem. Há meses ocorrem paralisações constantes dos trens. Pudera. A mais retumbante vitória de Macron contra os sindicatos foi justamente no setor ferroviário. A estatal deficitária será administrada como uma companhia privada e os seus novos funcionários vão perder o status de servidores públicos. Chegará ao fim o regime especial de aposentadoria, com salário integral. Para os demais trabalhadores, a idade mínima é de 62 anos. Os maquinistas se aposentam aos 52 e desfrutam bilhetes gratuitos por toda a vida. Seus familiares também contam com o direito de viajar de graça ou pagando preço reduzido. Macron, diante do apoio no Parlamento para acabar com privilégios na estatal que datam de 1920, sagrou­-se vitorioso em uma batalha perdida por dois de seus antecessores, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.

Vista como radical pela oposição, a reforma de Macron segue o que foi feito anteriormente em outras nações ricas da social-democracia europeia, como a Alemanha e os países nórdicos. Desde a sua campanha, aliás, ele promete seguir o modelo nórdico. Vai dar certo? É cedo para saber, mas o francês, eleito com o discurso reformista, está fazendo o que disse que faria, pois nunca escondeu os seus reais objetivos. Macron tem ainda pela frente mais de três anos de mandato para convencer os franceses de que escolheu o caminho adequado.

Publicado em VEJA de 18 de julho de 2018, edição nº 2591

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