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A desventura colonial

Em 'Zama', da argentina Lucrecia Martel, um oficial da coroa espanhola num fim de mundo sul-americano aguarda uma remoção — e um futuro — que nunca chega

Por Isabela Boscov Atualizado em 30 mar 2018, 06h00 - Publicado em 30 mar 2018, 06h00
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  • Dom Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho) espera que El Rey mande uma carta e a coroa espanhola, enfim, o tire do vilarejo sul-americano em que ele desempenha obscuras funções oficiais. E Dom Diego espera, e espera, olhando o rio que margeia esse fim de mundo em algum lugar do que é hoje o Paraguai. Embarcações vêm e vão; trazem espanhóis já quase mortos de cólera, ordens de transferência para o governador, alforria para o funcionário insubordinado que passa à frente de Dom Diego no posto europeu. Para Dom Diego, nada, nunca. Lucrecia Martel, a diretora argentina de poucos e marcantes filmes como O Pântano e A Menina Santa, faz de Zama (Argentina/Brasil/Espanha, 2017), já em cartaz no país, uma tragicomédia colonial tão mais contundente por ser tão impalpável.

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    Lucrecia resiste ao enredo, e instaura em seu lugar uma estrutura episódica que por vezes parece desordenada, até incompreensível — e então o espectador se dá conta de que está mergulhado na mesma falta de nexo que assola o protagonista. Ela rejeita também o descritivo, preferindo o epidérmico. Seus enquadramentos congregam personagens diversos em ações distintas, ou personagens e animais com os quais eles convivem em estreita proximidade. Organização ou privacidade são impossíveis ali. Tampouco se consegue formar uma ideia clara da disposição geográfica do lugarejo: transita-se dos casarões dos brancos às palhoças dos indígenas, do calçamento para a mata, sem saber como se chegou aqui ou acolá. Um escravo negro usa libré e sunga; Zama e os outros oficiais põem suas perucas sempre que se encontram, mas sob elas veem-se os cabelos suados. Aliando-se à extraordinária edição de som, tudo isso comunica calor, odores pungentes, a coceira da pouca higiene e dos muitos insetos — e, sobretudo, a vergonha aflita de Dom Diego, extraviado nesse arremedo de civilização, à espera de um futuro que não vem.

    Publicado em VEJA de 4 de abril de 2018, edição nº 2576

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