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Venezuelanos em Roraima enfrentam desemprego e falta de acesso à educação

Estudo da ONU mostra ainda que, entre os que obtiveram trabalho, renda média é de metade do salário mínimo; sete em cada dez têm interesse em sair do estado

Por Tulio Kruse 8 dez 2021, 09h29

Quatro anos depois do início da crise migratória mais grave da América Latina, os venezuelanos que permanecem em Roraima têm renda menor, menos oportunidades de trabalho e mais dificuldades no acesso à educação. Aqueles que ficaram no estado e têm algum tipo de trabalho ganham em média 594,70 reais – pouco mais do que a metade do salário mínimo no Brasil. Em Roraima, ponto de entrada para a maioria dos venezuelanos, sua condição de vida é pior do que aqueles que conseguiram se mudar para outras regiões: os realocados ganham salários mais altos – com uma média de 1.394 reais por mês –, têm mais escolaridade e mais facilidade para encontrar emprego.

Os dados são de uma pesquisa de órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU) que pela primeira vez investigou como vivem os refugiados e migrantes da Venezuela atendidos pela Operação Acolhida, coordenada pelo Exército. O estudo diz que há demanda para o governo expandir seu programa de interiorização, que leva os imigrantes para outras partes do país. Sete em cada dez venezuelanos que moram nos abrigos em Roraima têm interesse em sair do estado, e mais da metade já fez algum tipo de cadastro na tentativa de ser realocado.

Isso ocorre enquanto o fluxo de migração aumenta. O Brasil reabriu a fronteira com a Venezuela em junho, e o registro de novos migrantes na região foi de 2.000 naquele mês para mais 7.000 em outubro. A quantidade de migrantes realocados pelo Exército, no entanto, diminuiu drasticamente no ano passado: em fevereiro de 2020 houve um recorde de 3.100 venezuelanos que se mudaram para outros estados com a ajuda do governo, e em seguida a média caiu para cerca de mil por mês. Em outubro deste ano, foram 1.800 pessoas interiorizadas, ou seja, o patamar pré-pandemia não foi retomado. Cerca de 62 mil pessoas já se mudaram para outras partes do país com o programa de interiorização do governo desde 2018.

Família de venezuelanos na cidade de Igarassu, em Pernambuco
Família de venezuelanos na cidade de Igarassu, em Pernambuco (ACNUR/Allana Ferreira/Divulgação)

Cerca de 32 mil venezuelanos vivem hoje em Boa Vista, capital de Roraima, segundo estimativas da ONU. Entre eles, em torno de 2.000 estão nos cinco abrigos da Operação Acolhida na cidade. A taxa de desemprego entre eles é de 31%, e mesmo entre quem trabalha o nível de renda é 1/3 da média da população de Roraima. Já entre os venezuelanos que se mudaram, cerca de de 18% estão desempregados.

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A desigualdade é similar no acesso à educação. Entre os menores de 18 anos que estão nos abrigos, só 42% estão matriculados em escolas ou creches. No restante do país, essa taxa alcança quase 70% das crianças e jovens. Aqueles que participaram do programa de interiorização também têm nível educacional mais alto e falam português com mais facilidade.

“Devemos lembrar que os abrigos são uma resposta emergencial”, disse Chiara Orsini, oficial associada de Relações Externas da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). “Temos que seguir trabalhando sobretudo para garantir que as pessoas possam ser interiorizadas, inclusive as que têm necessidades especiais, para que ninguém fique para trás.”

O estudo foi realizado pela Acnur, pelo Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) e pela ONU Mulheres, e entrevistou 1.295 venezuelanos – entre eles, foram mil formulários para os interiorizados e 295 que moram nos abrigos de Roraima. O estudo foi executado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis (Ipead).

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