Tom de campanha domina a despedida de Lula no Rio
Na UNE, presidente foi recebido ao som de "Lula lá"; na premiação dos destaques olímpicos, comemorou o fim do "complexo de vira-latas"
“Nunca pensei que seria tão bem tratado pela UNE e pela UBES. Aproveito o meu último discurso para estudantes para dizer que foi um prazer trabalhar com vocês”
O presidente Lula abriu sua despedida do Rio de Janeiro em clima muito mais de campanha do que de fim de governo. Ao chegar à cerimônia de lançamento da pedra fundamental da nova sede da União Nacional dos Estudantes, foi recebido ao som de “Lula lá”, jingle de sua campanha de 1989, e com palavras de ordem como “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”. No terreno da Praia do Flamengo, onde ficava a sede original da UNE, incendiada em 1964 e demolida nos anos 1980, foi montado um grande palco, que ficou lotado de políticos e personalidades – entre estas, o arquiteto Oscar Niemeyer, de 103 anos, responsável pelo projeto da sede.
Lula chegou com quase duas horas de atraso, e falou por 15 minutos, de improviso. Para não inviabilizar o resto da agenda, que inclui o Prêmio Destaque Olímpico e um show em homenagem ao presidente, só duas outras pessoas discursaram: o ex-presidente da UNE Aldo Arantes, que falou em nome de todos os ex-dirigentes da entidade, e o atual presidente, Augusto Chagas. O governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e o ministro da Educação, Fernando Haddad, que tinham discursos previstos no cerimonial, abriram mão da palavra.
Em seu discurso, Lula fez questão de afirmar que a UNE manteve a tradição de luta em seu governo, e que não houve “complacência nem subserviência” da entidade nesses oito anos. De acordo com Lula, a boa relação da UNE com o governo foi possível porque houve uma “revolução na educação”. Ao mesmo tempo, afirmou: “Nunca pensei que seria tão bem tratado pela UNE e pela UBES. Aproveito o meu último discurso para estudantes para dizer que foi um prazer trabalhar com vocês”.
Augusto Chagas também usou seu discurso para se contrapor às críticas que a entidade que preside tem recebido, de ter sido cooptada pelo governo Lula, de quem recebeu dez vezes mais recursos do que nos oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso. “A UNE é a entidade mais importante do país. Não teve um capítulo da república em que a nossa marca não estivesse cravada. A nossa trajetória é de protagonismo. E nos últimos anos não foi diferente”, disse, entre muitos gritos e aplausos.
Homenagem olímpica – O tom ufanista exacerbou-se na segunda escala da maratona presidencial, no Museu de Arte Moderna. Homenageado no Prêmio Brasil Olímpico, o presidente Lula voltou a bater na tecla do orgulho de ser brasileiro. “Acabamos com o complexo de vira-latas, como diria Nelson Rodrigues, para nos tornarmos cidadãos com direito de organizar uma Olimpíada”, disse em mais um discurso de improviso.
Lula enfatizou a importância do investimento em esporte para o desenvolvimento do país “Não se pode falar em gasto quando se fala de esporte, e sim de investimento, para que o Brasil se torne uma potência olímpica”, disse, acrescentando que é igualmente importante que todos tenham oportunidades iguais nesse crescimento.
O governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e o ministro do Esporte, Orlando Silva, também foram homenageados, no mesmo tom. Cabral foi elogiado pela política de pacificação de favelas, e Paes ouviu de Lula uma brincadeira profética: “O prefeito ainda está no segundo ano de governo, mas já pode fazer campanha pela reeleição”, disse o presidente.
No encerramento de seu discurso, já com os batedores à sua espera para seguir em direção ao Sambódromo para o último compromisso do dia, Lula escalou-se para integrar a equipe olímpica brasileira. “Não sei se vai ter competição de terceira idade. Mas se tiver, podem me chamar.”