Quatro anos atrás, nessa mesma época, Jair Bolsonaro se preparava para subir a rampa do Palácio do Planalto, impulsionado por 57 milhões de votos, depois de sofrer um atentado que, por pouco, não lhe tirou a vida durante a campanha. Lula, na mesma época, estava preso numa cela da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, começando a cumprir uma pena de doze anos em regime fechado. Agora é Lula quem se prepara para subir a rampa do Planalto, catapultado por 60 milhões de votos, enquanto Jair Bolsonaro, derrotado, iniciará uma jornada ainda incerta como o principal líder da oposição. Na segunda-feira 19, o ex-governador Sérgio Cabral, um corrupto confesso condenado a 425 anos de prisão, foi solto, enquanto o juiz que o condenou está sendo investigado. Num ano eleitoral, o mesmo Supremo Tribunal Federal que anulou a sentença de Lula e libertou Cabral teve um papel decisivo para garantir o bom funcionamento da democracia. Heróis e vilões, classificação que variou conforme o ponto de vista — e as convicções éticas — do observador, deram sobrevida à perniciosa polarização que tomou conta do país há alguns anos. Aos trancos e barrancos, 2022 ficará marcado na história como um ano de reviravoltas.
Alguns acontecimentos importantes, de tão peculiares, improváveis e absurdos, parecem ter migrado de ambientes virtuais, onde tudo é possível. Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump anunciou que pretende voltar à Casa Branca — e tem chances reais de sucesso —, mesmo investigado e sob o risco de ser preso, por incentivar a vexatória invasão do Capitólio depois de ser derrotado nas eleições. A guerra contra a pandemia do coronavírus ainda nem havia terminado quando Vladimir Putin, o presidente da Rússia, iniciou outra que reverberou nas economias de todo o mundo. Era para durar apenas alguns dias e, após dez meses, ainda não há sinal de seu término. O planeta também parou para acompanhar, durante dias, o velório e a sucessão da rainha Elizabeth II, que esteve por setenta anos à frente de uma instituição que atrai uma atenção desproporcional a sua importância prática. No aspecto econômico, poderosas empresas de tecnologia — aliás, as desenvolvedoras do metaverso (criação virtual que reproduz uma realidade paralela) — mergulharam numa crise também inimaginável no universo real. Aqui e lá fora, 2022 teve sua lista de vencedores e perdedores — mas raras foram as vitórias ou derrotas definitivas. Essa gangorra vai continuar.
LEIA O ESPECIAL DE RETROSPECTIVA 2022:
– POLÍTICA
– Os desafios de Lula para 2022
– A derrota amarga de Bolsonaro
– O protagonismo de Alexandre de Moraes no Judiciário
– BRASIL
– A marca da maldade: o julgamento de Flordelis
– ECONOMIA
– A chance perdida de Bolsonaro e Guedes na economia
– MUNDO
– Como a morte de Elizabeth II marcou o fim de uma era
– Depois de uma longa espera, a vez de Charles no trono
– Na guerra, Ucrânia mostrou a força da resistência
– Estados Unidos: onda republicana não se concretizou em 2022
– Ano cravou China como superpotência global e Xi, seu líder inconteste
– Na América Latina em 2022, todo poder aos vermelhos
– O espectro da ultradireita ronda a Europa
– GERAL
– Adeus às máscaras: o fim da fase mais dura da pandemia
– O mundo viu o espaço com mais clareza
– Vida longa aos faraós: Egito voltou ao centro das atenções
– Passado submerso: o salto da arqueologia marinha
– Calor recorde e incêndios: o impacto do aquecimento global
– Virada moralista: o aborto no centro das discussões sociais
– ESPORTE
– Respeitosa despedida: nunca houve um tenista como Federer
– ‘Parece um pesadelo’: a derrota do Brasil na Copa
– CULTURA
– O tapa memorável de Will Smith no Oscar
– Os melhores filmes, discos, séries e livros de 2022
– Tempos ásperos: as frases que causaram barulho
– Memória: as mais marcantes despedidas
Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821