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Quem é o novo nome que vai enfrentar a ‘maldição dos tesoureiros’ do PT

Sigla escolhe o encarregado das finanças da campanha do ex-presidente Lula — cargo que deixou marcas indeléveis em seus antecessores

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 abr 2022, 10h52 - Publicado em 22 abr 2022, 06h00
EM 2022 - Márcio Macedo, o novo dono do cofre petista: experiência como parlamentar e discreto nas declarações -
EM 2022 - Márcio Macedo, o novo dono do cofre petista: experiência como parlamentar e discreto nas declarações – (Ricardo Stuckert/.)

Cuidar das finanças sempre foi uma função sensível nas campanhas políticas. Antes de as doações de empresas privadas serem proibidas, em 2015, cabia ao tesoureiro do partido negociar cifras com os potenciais doadores e combinar eventuais contrapartidas com as quais o candidato se comprometia a implementar — algumas legítimas e outras nem tanto. Pelos interesses em jogo, o trabalho exigia extrema discrição. Nas eleições de 1989, as primeiras depois da redemocratização do país, apenas um círculo restrito de figuras que já gravitavam em torno do poder sabia exatamente o que fazia Paulo César Farias, o encarregado do caixa do então candidato Fernando Collor. PC, como era conhecido, acabou se transformando no pivô do escândalo que resultou no impeachment do presidente da República, quando se descobriu que ele operava um mecanismo de corrupção que tinha as contribuições eleitorais como a engrenagem principal. Uma década depois, o PT levou essa fórmula ao paroxismo.

Em 2002, o professor de matemática Delúbio Soares foi escolhido para cuidar das finanças da campanha de Lula. Sindicalista como o candidato, ele atendia a três requisitos fundamentais exigidos para a função: era discreto, entendia de números e partilhava a absoluta confiança do ex-presidente. Delúbio foi preso anos depois, condenado por corrupção e formação de quadrilha no escândalo do mensalão. Em 2010, a missão de arrecadar fundos para a campanha de Dilma Rousseff foi confiada ao bancário João Vaccari Neto, sindicalista, que também tinha afinidade com números e o curioso hábito de usar uma mochila a tiracolo — adereço que, na verdade, era um instrumento de trabalho, usado para transportar propina. Ele foi condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Dos seis ex-tesoureiros que atuaram nas campanhas presidenciais do PT nos últimos vinte anos, três foram presos e dois responderam a processos por irregularidades. Parece uma sina.

EM 2002 - Delúbio: o tesoureiro de Lula foi preso e condenado por corrupção -
EM 2002 - Delúbio: o tesoureiro de Lula foi preso e condenado por corrupção – (Geraldo Bubniak/AGB/.)

Um deles, Paulo Ferreira, admite que a cultura do caixa dois que sempre existiu na política brasileira provocava uma exposição muito grande dos dirigentes encarregados das finanças partidárias. Ele mesmo seria um exemplo disso. Preso em 2016, foi acusado e condenado em primeira instância por usar dinheiro desviado de contratos públicos para fins pessoais e eleitorais, processo que mais tarde foi anulado em segunda instância por falta de provas. São situações constrangedoras que tendem a não se repetir mais, graças, segundo ele, à proibição das doações de empresas privadas (veja a entrevista) — um prognóstico que, se confirmado, deve manter no anonimato o ex-deputado federal sergipano Márcio Macedo, o tesoureiro que vai cuidar da campanha presidencial de Lula. A propósito, ele será ex-congressista por pouquíssimo tempo, já que assumirá em breve a vaga de um colega que teve o mandato cassado por abuso de poder econômico. Apesar da formação — professor de biologia —, Macedo não é um neófito no ramo das finanças.

Em 2015, quando Vaccari foi preso, ele ocupou por dois anos o cargo de secretário de finanças do partido. Na época, foi instado a prestar explicações sobre as suas contas e as do partido. No ano anterior, Macedo havia disputado, sem sucesso, a reeleição para a Câmara dos Deputados. Ao rastrear o dinheiro desviado pelas empreiteiras no escândalo de corrupção da Petrobras, a Lava-Jato detectou uma doação de 95 000 reais da Andrade Gutierrez para a campanha do parlamentar, o que correspondia a 20% de tudo o que ele havia arrecadado. Para aumentar o nível da suspeição, o dinheiro havia sido repassado por indicação do próprio Vaccari. O Ministério Público investigou a hipótese de os recursos serem oriundos do esquema de corrupção da Petrobras, mas nada foi comprovado.

EM 2010 - Vaccari: o tesoureiro de Dilma foi preso e condenado por corrupção -
EM 2010 - Vaccari: o tesoureiro de Dilma foi preso e condenado por corrupção – (Vagner Rosario/.)

O novo tesoureiro atuou como um dos mais estridentes apoiadores do ex-presidente em protestos em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula ficou preso por quase 600 dias, e integrava a lista de visitantes frequentes do ex-­presidente no cárcere. Com o chefe já em liberdade, assumiu a coordenação de caravanas lulistas pelo Nordeste. Macedo é acima de tudo um soldado do partido. Em sua passagem pelas finanças do PT, ele assinou um contrato de cerca de 1 milhão de reais com o empresário Carlos Cortegoso para a produção de bandeiras, adesivos, sinalização visual e impressão de bótons. O tal empresário, um amigo do ex-­presidente Lula, já havia entrado na mira das autoridades por desvio de recursos de campanha.

No Congresso, Macedo foi um ferrenho crítico da CPI da Petrobras, aberta para apurar contratos fraudulentos na estatal, e atuou como defensor da desastrosa compra da refinaria de Pasadena (EUA), negócio que, com as digitais da então ministra da Casa Civil, Dilma Rous­seff, gerou prejuízo na casa de 800 milhões de dólares ao cofres públicos. A VEJA, o novo tesoureiro explicou que sua ascensão ao cargo se deve muito à experiência administrativa que adquiriu como secretário do Meio Ambiente de Sergipe, entre 2007 e 2010, na gestão do governador Marcelo Déda (PT). Aliás, foi nessa época que ele se aproximou de Lula e conquistou a confiança dos principais dirigentes do partido. O homem que vai cuidar da arrecadação da campanha do ex-presidente é econômico nas declarações. Ele minimizou as transações duvidosas, como o caso Cortegoso, e não disse uma palavra sobre as estimativas de custo da campanha de Lula em outubro: “Ele que vai falar sobre esse assunto, eu não vou falar nada sobre isso. Quem cuida da coordenação é ele, então é ele que tem de falar. E ele vai falar na hora certa”. “Ele” é o ex-presidente Lula. O segredo, ao que parece, continuará sendo a alma do negócio.

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

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