Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Por reeleição, Claudio Castro descola de Bolsonaro e sinaliza a Lula

Dispostos a ganhar palanques para o presidenciável, os petistas respondem positivamente ao empenho do governador fluminense

Por Cássio Bruno Atualizado em 16 out 2021, 15h51 - Publicado em 16 out 2021, 08h00

Alçado ao Palácio Guanabara pelo impeachment de Wilson Witzel, o até então desconhecido vice dele, Claudio Castro (PL), cantor gospel católico vindo de dois anos de obscuridade na Câmara dos Vereadores, agarrou sua chance: pôs-se imediatamente a trabalhar para, encerrado o mandato-tampão, se reeleger governador do Rio de Janeiro. A primeira providência foi agradar à família Bolsonaro — abraçou-se sobretudo com o senador Flávio, empilhou aliados do presidente e dos filhos no Palácio Guanabara e, por um momento, até flertou com o negacionismo em meio à pandemia da Covid-19. Ao ver Jair Bolsonaro patinar nas pesquisas, Castro, em nome de seu projeto, iniciou um gradativo descolamento do clã, tomando o cuidado de não acirrar a ira e a retaliação bolsonaristas. Ao mesmo tempo, voltou-se para o extremo oposto: agora se movimenta na direção da centro-esquerda e do ex-presidente Lula.

Na trilha da mudança de lado, Castro tem evitado citar Bolsonaro e aparecer junto a ele nas redes sociais. Na briga do presidente com os governadores a respeito da alta da gasolina, pôs-se a criticar o Planalto e a política de preços da Petrobras. Também assinou a carta-protesto contra a afirmação de Bolsonaro de que “todos os estados, sem exceção”, aumentaram impostos, contribuindo para a subida no preço dos combustíveis. Virou a casaca na questão da vacina, abandonando a cartilha bolsonarista e publicando no Instagram foto sua sendo imunizado, com a legenda: “Vacina boa é com a segunda dose”. Enquanto isso, a operação Castro-Lula vai se desenvolvendo discretamente, encabeçada por Rodrigo Abel, um petista de raiz que hoje dá as cartas no governo fluminense, na posição de secretário estadual do Gabinete do Governador.

O objetivo do grupo político de Castro é construir uma aliança informal com Lula e a partir daí solidificar o apoio dos principais nomes da articulação eleitoral no Rio: o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), André Ceciliano (PT), e o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). Com Ceciliano a parceria já tem meio caminho andado: o deputado costurou para o governador uma ampla aliança com pelo menos dezesseis partidos. Mais que depressa, eles se beneficiaram do loteamento de secretarias, subsecretarias e órgãos estaduais, garantindo em troca apoio às ambições de Castro em 2022. Paes já é osso mais duro de roer, visto que tem um candidato próprio, Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, para a sucessão estadual. Mas seus aliados dizem que a aproximação com o governador não está descartada — reeleito com um empurrão do prefeito, Castro retribuiria deixando-lhe caminho livre para o mesmo cargo em 2026.

DESCOLAMENTO - Flávio: o elo de Castro com o Planalto se esgarça -
DESCOLAMENTO - Flávio: o elo de Castro com o Planalto se esgarça – (Waldemir Barreto/Ag. Senado)

No PT, o trunfo de Castro é a disposição da sigla de obter aliados onde quer que eles se apresentem. Altineu Côrtes, deputado federal e presidente regional do PL, o partido do governador, admite abertamente a possibilidade de uma aliança informal: “O PL nacional irá com Bolsonaro. Mas existe, sim, um movimento para juntar Castro e Lula no Rio”. Do outro lado, também. “Formalmente, o partido deverá apoiar Marcelo Freixo (PSB) para governador. Mas a prioridade do PT é eleger Lula. Queremos que ele tenha mais de um palanque nos estados”, confirma Ceciliano, um dos coordenadores da pré-campanha do ex-presidente. Neste cenário, Lula pediria votos no Rio para Freixo e ainda para Felipe Santa Cruz, para Rodrigo Neves (PDT), ex-prefeito de Niterói — e, no melhor dos mundos castrista, para ele próprio, o azarão do bolo centro-esquerda. Em agosto, postado ao lado do governador em um evento, o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, gritou, empolgado: “É Castro-Lula, é Castro-Lula!”. Constrangida, no dia seguinte a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, despistou: “É uma posição absolutamente pessoal de Quaquá”.

Continua após a publicidade

Assim como em outros estados, a definição do palanque no Rio deve acontecer por volta de maio de 2022. Com as finanças estaduais turbinadas pela venda da Companhia de Água e Esgoto e pelos royalties de petróleo, Castro negocia a reformatação da monumental dívida do Rio com a União, de mais de 170 bilhões de reais. “Até o início do ano que vem, quando a questão da dívida deve estar resolvida, ele ficará com um pé em cada canoa, entre Bolsonaro e Lula”, prevê uma pessoa próxima a ele. “Internamente, fala: ‘Eu não posso trair o Bolsonaro, mas estou torcendo para que ele me traia’ ”, acrescenta. Aliás, isso é bem possível. Bolsonaristas mais radicais gostariam de lançar um nome como Hamilton Mourão ao governo fluminense. Procurado, o governador disse em nota que se empenha em “consolidar melhorias para a população do Rio” e em “unir o estado com diálogo e realizações”. Em resumo: faltando um ano para a eleição, Castro, o novato, mostra que conhece política tanto quanto seus pares mais maduros.

Em nota divulgada neste sábado, 16, o presidente do PL no Rio de Janeiro, Altineu Côrtes, afirmou que a legenda é base de apoio de Bolsonaro e está comprometida com sua reeleição. “Este mesmo compromisso nacional é acompanhado pelo PL no Rio e por todas as suas lideranças”, acrescenta. “As aspas atribuídas a fala do Governador Cláudio Castro não são verdadeiras. O governador, filiado ao PL, já reiterou publicamente — recentemente ao jornalista Datena — o apoio à reeleição de Jair Bolsonaro”, conclui.

Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.