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Pioneiro das ‘deepfakes’ é ameaçado após satirizar Bolsonaro e cloroquina

Bruno Sartori recebeu mensagens com seu nome e de familiares ao postar vídeo em que presidente é caracterizado como Tiririca cantando versão de ‘Florentina’

Por André Siqueira Atualizado em 15 abr 2020, 11h58 - Publicado em 15 abr 2020, 11h53

Em meio à pandemia de coronavírus, a cloroquina se tornou uma arma ideológica nas redes sociais. Embora o Ministério da Saúde afirme que não há estudos que atestem a eficácia do medicamento no combate à epidemia, o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores encamparam uma espécie de cruzada ideológica na defesa do remédio.

A predileção de Bolsonaro pelo tema motivou o jornalista e influenciador digital Bruno Sartori a produzir uma sátira com um dos discursos do presidente da República. Sartori é um dos pioneiros na criação de deepfakes no Brasil. A técnica consiste na criação de um vídeo, com uso da inteligência artificial, que reproduz a aparência, as expressões e a voz de uma pessoa. Na publicação, o “bruxo dos vídeos”, como Brunno se define, faz uma associação fonética da cloroquina com a música Florentina, do palhaço e deputado federal Tiririca (PL-SP).

O vídeo, de aproximadamente 40 segundos, rendeu mais de 15 mil seguidores a Sartori no Instagram em um único dia – ele tem 277.000 hoje nessa rede social, além de 108.000 no Twitter – e motivou uma onda de ameaças em seus perfis. Ele falou a VEJA sobre a repercussão de suas publicações e os ataques que tem recebido nos últimos dias.

Por que a escolha pelo presidente Jair Bolsonaro em seus vídeos? Procuro observar o que acontece diariamente. Bolsonaro tem sido destaque por conta de seu posicionamento em relação ao isolamento social, por fazer a defesa de um medicamento que não tem respaldo científico. Como está em pauta, em alta, acaba sendo ele. [A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos] Damares sumiu, [o ministro da Justiça e Segurança Pública] Sergio Moro sumiu. Bolsonaro ofuscou todo mundo. Ele acaba sendo o mais polêmico, e por isso é tema de meus vídeos.

Como avalia o governo Bolsonaro? Ele foi eleito prometendo uma gestão técnica, mas o governo anda segundo as suas convicções. O episódio do coronavírus é uma prova disto. O Ministério da Saúde é técnico, mas o ministro é desautorizado por não defender as teses do presidente. É um governo bastante ideológico.

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De onde surgiu a inspiração para fazer a paródia com a música Florentina? Procuro, sempre, fazer uma associação que ninguém ainda tenha percebido. Minha ideia é relacionar o assunto do momento a uma coisa engraçada. A do Tiririca tentei levar para o lado cômico. O Tiririca é um palhaço. O Bolsonaro é chamado por alguns opositores de Bozo, outro palhaço. Nas minhas paródias, tento buscar uma aproximação fonética muito próxima. Cloroquina e Florentina são bem próximos. Gravei e publiquei. Em um único dia, ganhei 15 mil seguidores no Instagram.

Este vídeo foi o estopim para o recebimento das ameaças? Este vídeo trouxe um número enorme de xingamentos. Mas por enquanto não passa disso, entra por um ouvido e sai pelo outro. Logo depois, fiz um vídeo chamado “Capitão Corona”, inspirado novamente nas teses defendidas pelo presidente. No final dele, havia uma paródia do Hino Nacional. Eu não escrevi aquela paródia. Ela foi composta pelas pessoas. Uns diziam que o Bolsonaro havia dito uma vez, sem querer, “margens flácidas” [o correto é “margens plácidas”]. Depois, começou a circular um meme chamando o presidente de “o vírus do Ipiranga” [em referência a “ouviram do Ipiranga”, outro trecho do hino]. Me pediram para gravar a paródia e gravei. Foi, então, que passei a receber ameaças.

Que tipo de ameaças? Um rapaz me mandou um áudio de três minutos no WhatsApp, com ameaças (veja abaixo uma das mensagens recebidas). Pouco depois, meu assessor e eu recebemos mensagens com todos os meus dados, dados de minha mãe, endereço, dizendo “vamos te pegar, vamos te levar para o pau de arara, para aprender a respeitar o presidente”. Clonaram um de meus cartões, todos os dias recebo notificações de compras bloqueadas. Acredito que divulgaram meus dados em um fórum. Não sofri nenhum ataque físico, mas as próprias mensagens dizem “agora estamos em quarentena, mas espero quando ela acabar”.


(Reprodução/Reprodução)

O que tem feito para se defender? Tenho receio de registrar um boletim de ocorrência, porque temo que meu endereço seja vazado. Me mudei para São Paulo há um mês, mas estou protegido. A verdade, porém, é que agora as ameaças são reais. Tenho me aconselhado com algumas pessoas, com a assessoria do partido Cidadania no Senado, por exemplo, para formalizarmos um pedido ao Ministério Público. A ideia é saber se seria possível instaurar um inquérito para investigar estes ataques, mas preservando ou omitindo meu endereço.

Você acredita que há uma milícia digital por trás disso? Sem dúvidas. Eu comparo as mensagens, o teor delas. A forma da abordagem é muito semelhante, a maioria delas ocorre por números de fora do país.

As ameaças terão algum efeito em seu trabalho? Por mais graves que sejam [estas ameaças], não irão me intimidar. Me sinto feliz, por mais estranho que possa parecer, porque pude mostrar a estas pessoas a contradição que existe dentro delas. Elegeram Bolsonaro dizendo que o “mimimi” iria acabar, que seria o fim do politicamente correto, que poderíamos fazer piadas com as coisas. Mas, no momento em que você faz uma piada com elas, são as primeiras a atacar. Meus vídeos satirizam falas, atitudes do governo, do presidente. Não faço piadas ofensivas com negros, gays, mulheres. O eleitor de Bolsonaro votou para que o PT não permanecesse no poder, mas o bolsonarista é este que se vê no presidente, é este que te ataca quando é satirizado.

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