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Para apoiar Baleia Rossi, do MDB, PT topa até esquecer o passado

Em entrevista a VEJA, vice-presidente do partido também diz que, em 2021, a legenda vai definir um plano B caso Lula permaneça inelegível

Por Nonato Viegas 29 dez 2020, 18h18

O PT precisa, já no ano que vem, definir um plano B para a disputa presidencial no lugar de Lula, que está inelegível, segundo o vice-presidente da legenda, Washington Quaquá. O dirigente expressa o que muitos petistas pensam mas não têm coragem de assumir publicamente: Lula não pode mais ser o objetivo final de todos os movimentos do partido.

Em entrevista a VEJA, Quaquá ressalta que o ex-presidente vai ser sempre o plano A da legenda, mas ao contrário de 2018, quando a legenda retardou ao máximo para apresentar Fernando Haddad  – um erro, na sua avaliação – o PT precisa apresentar antecipadamente à sociedade e à política o seu “plano B”.

“Vamos escolher um nome em 2021”, afirma. “Vamos dizer claramente: o Lula é o nosso candidato, mas se ele for impedido temos este outro candidato.” E, como parte desta estratégia eleitoral, o PT terá de superar um segundo desafio: se aliar passivamente a  recentes desafetos.

Quaquá afirma que na próxima semana o partido vai declarar apoio ao deputado Baleia Rossi para presidente da Câmara. Até ontem, o PT tratava o MDB como golpista.  Mas isso, segundo ele, é coisa do passado. Quaquá já chegou a defender uma aliança com o deputado Arthur Lira (PP), “um sujeito mais firme para manter acordos”, mas o PT se negou o apoio pelo fato de o parlamentar ser o candidato governista. 

Quem o PT vai apoiar para presidência da Câmara? Vai apoiar o Baleia – isso está mais do que óbvio. O PT já entendeu por maioria – e ainda está tentando conciliar as diversas visões da bancada – que é preciso ocupar os espaços do Parlamento para defender as nossas posições. Mais uma semana o partido define isso.

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 As diversas visões tem a ver com apoiar o Arthur Lira? Hoje não mais. Depois que o Bolsonaro embarcou de vez no Lira, o PT não poderia mais defendê-lo. Eu era o defensor de que o Lira tinha condição mais firme para manter acordos, mas a vida é assim: a depender da ordem, sim, altera o produto. Se a gente tivesse fechado o acordo lá trás, acredito que seria bom para o PT. Hoje não é mais, porque o Bolsonaro embarcou efetivamente na campanha dele. Como demorou, se a gente apoiasse a candidatura dele, o PT seria caudatário das ações do governo. Se o partido tivesse fechado com Lira antes do governo o ter feito, como diria o Lula, o PT teria bebido água limpa.

Então qual é a divergência ainda na bancada? Uma parte minoritária da bancada acha que o partido tem de lançar candidatura própria para depois desistir e apoiar o Baleia. Sinceramente, é desnecessário e até infantil. Se você tem posição, você marca sua posição. Nós disputamos eleições para disputar a sociedade, que estabelece o tamanho do Congresso. Quando se discute eleição para a presidência da Câmara, é preciso ter em mente que os deputados já estão lá são representantes de segmentos da sociedade. Você não vai disputar o voto da sociedade. Nos cabe, então, ocupar um espaço no Parlamento para poder defender ideias, o que acreditamos de políticas públicas, e nossas posições políticas.

Que espaço o PT quer ter na chapa do deputado Baleia? Pelo tamanho da bancada, é justo que o PT ocupe a vice-presidência ou a secretaria-geral. Mas para quem vai disputar 2022 é importante que tenha representação, ou seja, a vice-presidência da Câmara. Mas mais do que isso o PT está buscando o comprometimento político, de defesa da democracia, da Constituição, enfim, acho que o Baleia está sob influência do Doutor Ulysses Guimarães. 

O MDB de São Paulo é o mesmo acusado pelo PT de ter articulado um golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff. É o MDB de Michel Temer. Quando a gente na vida e na política se apega ao passado, a gente perde o futuro. Eu quero ganhar 2022. Não quero rever o golpe de 2016. Ele já aconteceu, entrou para a História e quem o fez vai ser cobrado pela História. Devemos olhar para o futuro. Quem olha demais para o passado não consegue construir o futuro. Na política, quem faz política grande tem para-brisa, não tem retrovisor.

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 E como a eleição do Baleia pode ajudar o PT em 2022? O ministro Ricardo Lewandowski (STF) acabou de dar acesso a Lula aos vazamentos do hacker da invasão aos procuradores da Lava Jato. Isso é fundamental para provar que houve conluio político contra Lula. Acredito, com isso, que no fim vai ficar claro que queriam tirá-lo da disputa eleitoral de 2018 e vão devolver a elegibilidade ao presidente. Aliado a isso, precisamos garantir, via presidência da Câmara, que tenhamos democracia. É fundamental para uma disputa eleitoral ter democracia plena. O filósofo Robert Escarpit dizia que, na democracia, quando às cinco da manhã batem à sua porta você intui ser o leiteiro e é isto que o Brasil precisa voltar a ter: o mínimo de garantias democráticas.

Então, o Lula continua sendo o único candidato do PT? Não! O Lula não é o único candidato. Tanto que em 2018 o PT lançou o Fernando Haddad. Mas, sim, ele é o candidato número um. É o que tem mais história, mais serviços prestados ao país, é um estadista.  No entanto, precisamos ter um plano B. Pode ser o Haddad, o senador Jaques Wagner. O erro da eleição passada foi não ter apresentado o plano B com antecedência. Mas o Lula continua sendo o plano A se estiver em condições de disputa. Não somos burros igual a direita venezuelana, que não disputa as eleições.

Até quando o PT vai esperar para definir o seu plano B? Ainda em 2021. Vamos dizer: o Lula é o nosso candidato, mas se ele for impedido temos este outro candidato. 

Está descartada, portanto, a ideia de o PT abrir mão da cabeça de chapa para compor com outros partidos? Não somos contra. O problema é matemático. Sempre querem tirar um petista que aparece à frente nas pesquisas para que o PT apoie alguém que esteja atrás. Nós queremos uma frente ampla, mas queremos que o partido que tenha o melhor candidato, com mais chances de ganhar, encabece a chapa. É natural isso.

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