Reportagem de VEJA desta semana mostra quem são os poderosos tesoureiros dos principais partidos que vão disputar a Presidência nas eleições deste ano. Aos donos do cofre, cabe a função de ordenar a distribuição dos fundos públicos e prestar contas à Justiça sobre os gastos de um total de 4,9 bilhões de reais destinados ao financiamento das campanhas.
Um deles chama especial atenção. O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, entregou a tesouraria para Jucivaldo Salazar Pereira. Mesmo com a responsabilidade de gerenciar uma verba de mais de 300 milhões de reais (268 milhões de reais do fundo e outros 57 milhões que estavam guardados) neste ano, ele divide a atribulada função com um cargo comissionado na Câmara dos Deputados.
Pelo currículo, não está claro como ele chegou às funções. Aos 79 anos, Jucivaldo Salazar é aposentado da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, onde fez carreira como técnico de laboratório.
Na arena política, teve o ponto mais alto 2006, quando tentou se eleger deputado distrital. Para impulsionar a campanha, até recebeu algumas doações financeiras do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, mas, com míseros 534 votos, não se elegeu. Mesmo declarando ter apenas o ensino médio de escolaridade, há registros da atuação financeira de Salazar desde a fundação do então Partido da República, em 2006. Uma espécie de faz-tudo da legenda, o tesoureiro concorreu a vice-governador em uma eleição indireta promovida pela Câmara Legislativa em 2010, em meio a uma operação que levou à prisão e à cassação de Arruda, mas novamente saiu derrotado.
O empregador de Jucivaldo Salazar, deputado Miguel Lombardi (PL-SP), tem dificuldades de explicar o que ele faz no gabinete, onde está lotado há sete anos e recebe um salário mensal de 12.000 reais. “O senhorzinho que ajuda eu? Faz tempo que ele está comigo”. Mas qual é exatamente a atividade que ele desempenha? “Aí você precisa falar com o meu chefe de gabinete. Eu sei que ele entrega documentação externa, vai no partido, vem e tal”, explicou o deputado.
VEJA tentou localizar Jucivaldo Salazar durante dias. No escritório onde ele está oficialmente lotado, ninguém soube informar ao certo nem quando nem onde ele se encontrava. O chefe de gabinete de Lombardi, aquele que, segundo o deputado, iria “falar” sobre as atividades do funcionário, decidiu não falar e, em nota, disse apenas que ele presta serviço de “secretaria, assistência e assessoramento” e que a interação entre ele e o parlamentar ocorre há mais de 20 anos.
O PL pediu que as perguntas fossem encaminhadas por escrito, mas não respondeu até a publicação da reportagem. Coube ao vice-presidente do partido, deputado Capitão Augusto (SP), a declaração mais sincera sobre o que Jucivaldo faz: “Não sei”.