MP aponta contradição em depoimento de Vaccari
Ex-diretor da Bancoop afirmou que petista assinava os cheques de pagamentos apontados como irregulares pela acusação
O Ministério Público encontrou contradições entre o depoimento do ex-tesoureiro nacional do PT João Vaccari Neto e o de um dos ex-diretores da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), realizados nesta quarta-feira no Foro Central Criminal da Barra Funda, na capital paulista. Preso e já condenado na Operação Lava Jato, Vaccari foi levado pela Polícia Federal de Curitiba (PR) para São Paulo e depôs por duas horas e quinze minutos. O interrogatório ocorreu sob segredo de Justiça.
Vaccari e mais cinco réus são acusados de formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Conforme a denúncia, apresentada em 2010, milhares de cooperados foram lesados e deixaram de receber seus apartamentos por causa de desmandos na administração da cooperativa entre 1999 e 2009. O Ministério Público afirma que dinheiro desviado dos cofres da Bancoop favoreceu os dirigentes e abasteceu campanhas do PT.
O petista negou desvios na cooperativa. Ele afirmou que tinha um cargo meramente formal, de “função política”, sem se envolver diretamente na administração da Bancoop quando foi diretor Administrativo e Financeiro, de 1999 a 2004. À época, o presidente era Luiz Eduardo Saeger Malheiro, morto em acidente de carro em novembro de 2004. Vaccari só assumiu a presidência após a morte de Malheiro, em 2005. “No Brasil, quem manda é o presidente, os outros são figuras acessórias”, afirmou Vaccari, conforme relato do assistente de acusação, o advogado Valdir Ramos.
Vaccari procurou se desvencilhar das irregularidades apontadas na denúncia, entre elas os pagamentos milionários por contratos firmados pela Bancoop com uma empresa constituída pelos próprios diretores da cooperativa, ainda durante a gestão de Luiz Malheiro. No entanto, o ex-diretor da Bancoop Tomás Edson Botelho Fraga afirmou que era Vaccari quem de fato “assinava os cheques” da cooperativa. Fraga atuou nas áreas Técnica e Administrativa e Financeira da Bancoop e declarou nesta quinta à noite que “pilhas de cheques” eram enviadas para assinatura de Vaccari no Sindicato dos Bancários.
“O Vaccari mentiu, mas foi desmascarado por outro réu”, disse o promotor José Carlos Blat. “Ele tentou dizer que não participava da administração da Bancoop, que o cargo era político, mas com outras provas produzidas fica patente a participação direta.”
No depoimento, Vaccari também confirmou ser dono de um dos apartamentos do Edifício Solaris, em Guarujá (SP), onde o ex-presidente Lula tem um tríplex, mas não soube informar o andar ou o número de porta do imóvel. Ele ainda confirmou que havia transferência de dinheiro entre diferentes empreendimentos da Bancoop para cobrir contas deficitárias, sem que os compradores das unidades tivessem avisos explícitos da manobra. O petista admitiu que a Bancoop unificou as contas bancárias dos empreendimentos, o que é uma das irregularidades administrativas apontadas.
Vaccari foi interrogado pela juíza Cristina Ribeiro Leite Balbone Costa, da 5ª Vara Criminal, além de ter prestado esclarecimentos a pedido da defesa e da acusação. Além dele e de Fraga, também foram ouvidos como réus Henir Rodrigues de Oliveira, Leticya Achur Antonio e Ana Maria Érnica. Os interrogatórios começaram por volta das 13h45 e terminaram às 22h30. Os depoimentos em juízo fazem parte fase final do processo criminal.