O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, reafirmou nesta quarta-feira, 22, que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) deve seguir sob seu comando, contrariando integrantes da comissão mista que analisa a reforma administrativa do presidente Jair Bolsonaro (PSL). No último dia 9, a comissão decidiu pelo retorno do Coaf ao Ministério da Economia, de Paulo Guedes. A mudança será votada nesta quarta-feira na Câmara.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Moro afirmou considerar que sua pasta dará mais importância ao órgão. “Eu não pedi que o Coaf viesse para a Justiça, mas, quando foi oferecido, analisei e me pareceu pertinente. O conselho está há vinte anos na pasta econômica, onde fica em segundo ou terceiro plano. No Ministério da Justiça, nós reconhecemos o caráter estratégico deste órgão”, disse o ministro.
O Coaf é considerado estratégico por receber informações sobre suspeitas de lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e até financiamento de atividades criminosas. O colegiado foi decisivo em investigações importantes, como a do mensalão, no governo Lula, e em várias etapas da Lava Jato. Foi também o Coaf que identificou movimentações atípicas nas contas do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz.
Na entrevista, Moro também falou sobre a hipótese de se candidatar à presidência em 2022. Voltou à tona a declaração polêmica feita por Bolsonaro no último dia 12, quando o presidente revelou ter um compromisso com o ex-juiz da Lava Jato de indicá-lo para a primeira vaga que abrisse no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Não assumi um trabalho pensando em outro. Nunca menti. Meu compromisso é assumir o ministério e consolidar os avanços anticorrupção. Acabamos de sair de uma eleição presidencial. Acho que falar em 2022 é algo totalmente fora de contexto. Sobre o STF, agradeci as palavras do presidente, de entender que havia um compromisso, mas, de fato, não houve nenhuma condição estabelecida neste sentido, até porque não teria sentido.”
Moro considera que Bolsonaro – que, no dia seguinte ao da declaração, também negou que houvesse um compromisso prévio com o ministro – tinha o objetivo justamente de protegê-lo no debate envolvendo o Coaf. “Ele deu essa declaração com o intuito de me fortalecer, pois havia uma certa resistência do Congresso em manter o Coaf aqui (na Justiça). Creio que ele teve boa intenção. Abandonei 22 anos de magistratura, abri mão da minha aposentadoria garantida, um valor significativo. Abri mão por causa dessa missão, que achei importante, e ele se sentiu, digamos, devedor em relação a esta iniciativa, mas nunca houve uma condição. Não teria sentido, pois não existe vaga aberta.”
Moro ainda avaliou as mudanças no decreto que facilita o porte de armas no país, anunciadas nesta quarta-feira. “Esse novo decreto atende a algumas críticas formuladas. Talvez houvesse alguns excessos e o Planalto foi sensível a esta crítica”, afirmou.