Moro se encontra com Bolsonaro após vazamento de conversas
Presidente ainda não fez declaração pública sobre mensagens trocadas entre ex-juiz e Deltan Dallagnol
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, encontrou o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada na manhã desta terça-feira, 11. A reunião começou por volta das 9h15 e foi encerrada pouco antes das 10h. Trata-se da primeira reunião dos dois após o vazamento de conteúdo de mensagens trocadas pelo então juiz federal e integrantes do Ministério Público Federal.
Depois da reunião, os dois seguiram para a cerimônia de comemoração do 154º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo. Eles foram juntos de lancha ao evento, segundo a assessoria do ministro, e ficaram sentados lado a lado.
Na segunda-feira 10, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que Bolsonaro iria se encontrar pessoalmente com Moro para tratar do assunto. Segundo ele, Bolsonaro se colocará “à disposição” para “compartir” com Moro os fatos relacionados ao vazamento.
Uma série de mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil no último domingo, 9, mostra que Moro orientou ações do Ministério Público Federal no âmbito da Lava Jato enquanto ele era o juiz responsável pelos processos relativos à operação. Os diálogos do ex-juiz com o procurador Deltan Dallagnol no aplicativo Telegram foram obtidos, segundo o site, por uma fonte anônima que compartilhou o material. Os dois negam qualquer irregularidade nas conversas.
A Polícia Federal instaurou inquéritos para apurar ataques de hackers em celulares de procuradores da República e no aparelho do ministro da Justiça. Moro deixou a magistratura em novembro passado, logo após aceitar convite para assumir o Ministério da Justiça. Ao lado de Paulo Guedes, da Economia, é considerado um dos “superministros” de Bolsonaro.
Apoio
Ministros do governo falaram em apoio ao ex-juiz da Lava Jato. Um exemplo foi o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. Ele disse que Moro tem “total confiança” do governo. O vice-presidente Hamilton Mourão foi na mesma linha e disse que Moro é alguém da “mais ilibada confiança” do presidente.
Conforme mostrou nota do blog Radar, o Palácio do Planalto, entretanto, não incentivou manifestações de apoio a Moro. As mensagens nesse sentido publicadas por parlamentares do PSL, partido do presidente, foram espontâneas.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, foi cauteloso ao ser questionado sobre o assunto durante evento partidário em São Paulo na terça-feira. Ele ressaltou, no entanto, que a invasão do celular do ministro é condenável. “Moro é vítima. Não se pode acusar a vítima”, disse, destacando que os fatos são anteriores à ida do ex-juiz para o governo. Para Eduardo, a criação de uma CPI sobre o assunto “não vai prosperar”.
Além da CPI, oposicionistas articulam apresentar um pedido de convocação de Moro. Segundo interlocutores, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foram cautelosos na avaliação dos desdobramentos do caso.
O mesmo discurso de cautela foi adotado por líderes do Centrão – bloco informal na Câmara capitaneado por PP, DEM, PRB, PL (ex-PR) e Solidariedade. “O que eu defendo é que se faça com responsabilidade, somente isso, para que não haja prejulgamento”, disse o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da maioria na Câmara.
(com Estadão Conteúdo)