No primeiro ano de sua administração, o pepista Alcides Bernal perdeu o cargo de prefeito de Campo Grande em meio a denúncias de beneficiamento a empresas. Voltou ao posto depois de uma liminar e viu o vice Gilmar Olarte (Pros) ser apontado como o mentor de uma trama para comprar votos de vereadores e conseguir a derrocada do então aliado. Desde então, Bernal encarnou o discurso vitimista de que não pode atuar plenamente como prefeito de Campo Grande. A retórica foi utilizada ao longo do restante de sua administração e como pano de fundo nesta disputa eleitoral. Seu principal adversário e sempre líder nas pesquisas de intenção de voto era o deputado estadual Marquinhos Trad (PSD), da tradicional família que já comandou a prefeitura de Campo Grande por dois mandatos.
A ascensão de Trad, embora o político pertença a uma das maiores oligarquias da região, marca a percepção de que o eleitorado se afasta de políticos cujos nomes se envolveram em suspeitas, como Alcides Bernal, e de que não subscreve na totalidade a administração estadual do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que, embora bem avaliado, mal conseguiu emplacar a aliada e vice-governadora Rose Modesto (PSDB) no segundo turno. Com 100% dos votos apurados, Rose desbancou Alcides Bernal por apenas 2.610. Marquinhos Trad teve 34,57%, seguido de Rose, com 26,62%, e de Bernal, com 26,01%. O candidato Coronel David (PSC) teve 4,83% dos votos, Marcelo Bluma (PV), 2,51% e Alex do PT, 1,99%. Athayde Nery, do PPS, teve 0,93%, Aroldo Figueiró (PTN) contabilizou 0,76%, Pedro Pedrossian (PMB) teve 0,57%, Lauro Davi (Pros) conquistou 0,45% dos votos, Adalton Garcia (PRTB), 0,38%, Suél do PSTU teve 0,38% e Elizeu Amarilha (PSDC) registrou 0,05%. Arce, do PCO, terminou o primeiro turno com 0,04% dos votos.
Em Campo Grande, 3,66% dos eleitores votaram em branco e 7,49% anularam o voto. A abstenção chegou a 19,20%.
Considerado instável por adversários, Marquinhos Trad foi citado em um grampo revelado por VEJA, mas não está envolvido pessoalmente em nenhum escândalo de corrupção, situação que o destaca em meio a um cenário de terra arrasada em Campo Grande. A eleição na cidade ocorre com o PMDB em franca decadência – as principais lideranças da sigla estão sendo investigadas na Operação Lama Asfáltica, da Polícia Federal – e com políticos e candidatos tentando se desvincular do outrora popular Delcídio do Amaral, senador cassado depois de ter atuado para travar as investigações da Operação Lava Jato.
Delator do petrolão, Delcídio colocou os ex-presidentes Lula e Dilma no centro das suspeitas investigadas em Curitiba. De Lula o ex-senador disse que partiu a ordem para conter delatores da Lava Jato, como o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. De Dilma, o político afirmou que partiu dela a iniciativa de nomear um magistrado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) com a função de libertar empreiteiros presos, como o herdeiro Marcelo Odebrecht.
Mesmo com inéditos 14 candidatos disputando o Executivo municipal, os votos do eleitorado de Campo Grande se concentrou em três candidatos: Marquinhos Trad, Rose Modesto e Alcides Bernal. A candidatura de Rosana dos Santos (PSOL), a 15ª candidata, foi indeferida pela Justiça Eleitoral.