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Lista deve aprofundar divisão entre PMDB e PT

Cúpula do PMDB no Congresso Nacional acabou atingida pelas denúncias. Eduardo Cunha parte para o ataque: 'Governo quer um sócio na lama'

Por Gabriel Castro, de Brasília
7 mar 2015, 15h07

A divulgação da lista dos parlamentares investigados no caso do petrolão dá início a uma nova – e imprevisível – fase na crise política instalada em Brasília. Se o clima entre o governo e a base “capenga”, como descreveu o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), já era ruim, a tendência agora é piorar.

Divulgados os nomes, o saldo é esse: 21 parlamentares do PP, seis do PMDB, cinco do PT, um do PTB e um do PSDB. De longe, o Partido Progressista foi o mais atingido – e isso se explica porque os inquéritos são resultado das delações premiadas dos operadores do PP no esquema Alberto Yousseff e Paulo Roberto Costa. Mas, entre os seis parlamentares peemedebistas listados, estão nomes do primeiro time da política nacional. Constam o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), do Senado, Renan Calheiros, o segundo vice-presidente do Senado, Romero Jucá (RR), e o próprio presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO).

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Verdades inconvenientes

Para o governo, a consequência é o enfraquecimento de dois nomes que têm causado dor de cabeça à presidente Dilma: justamente os presidentes da Câmara e do Senado. Por isso, a leitura inicial dos fatos indicaria que a lista de Janot poderia fragilizar o PMDB e forçá-lo a se reaproximar do PT e do governo. Há, no Palácio do Planalto, quem aposte nisso – o escândalo colocaria PT e PMDB no mesmo barco, navegando em águas turvas. Mas boa parte dos peemedebistas apostam o que o efeito será inverso.

“Se os dois lados ficam enfraquecidos ao mesmo tempo, um dos dois terá que prevalecer. Eu acho que isso piora o clima”, avalia o deputado peemedebista Lúcio Vieira Lima (BA), um dos mais influentes da bancada. O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), reconhece: “Claro que isso não é bom para a pessoa investigada e não é bom para a Casa”.

Um dos primeiros sinais foi a reação de Eduardo Cunha após a divulgação do seu nome na lista dos políticos investigados: “O governo quer um sócio na lama. Só entrei para poderem colocar o Anastasia”, disse ao jornal Folha de S.Paulo. A afirmação remete ao inquérito contra o senador tucano Antonio Anastasia (MG), em que Cunha também é citado. Anastasia é o único político de oposição na lista e foi sucessor de Aécio Neves (PSDB-MG) no governo mineiro.

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Neste sábado, Renan Calheiros também disparou contra o Palácio do Planalto em entrevista ao portal UOL: “Ao Palácio do Planalto não interessava tirar ninguém da lista. O jogo do governo era: ‘Quanto mais gente tiver, melhor, desde que tenha o Aécio’. Essa era a lógica do Planalto. E eles foram surpreendidos. A Dilma só soube que o Aécio estava fora na noite da terça-feira, quando o Janot entregou os nomes para o Supremo. Aí a lógica foi clara: vazar que estavam na lista Renan e Eduardo Cunha. Por quê? Porque essa é a estratégia deles. Querem sempre jogar o problema para o outro lado da rua. Foi algo dirigido.”

Especificamente no caso de Renan, os últimos dias deixaram claro que a reação será mesmo agressiva. Foi justamente após ter sido informado de que seria investigado que o peemedebista iniciou sua ofensiva contra o governo, culminando na devolução da medida provisória que aumentaria a carga sobre a folha de pagamento.

Eduardo Cunha, por sua vez, antecipou-se à denúncia e compareceu à CPI da Petrobras para dizer que dará todas as respostas exigidas, em uma tentativa de manter sua influência entre os colegas. A favor dele, segundo avaliação de líderes do Congresso, pesa a fragilidade das denúncias iniciais – frisa-se: pelo menos neste primeiro momento – em comparação às acusações contra outros políticos alvos da Lava Jato.

A divulgação da lista também pode aumentar a mobilização contra a corrupção e engordar a manifestação nacional prevista para 15 de março. E, em casos como esses, o governo acaba sendo o principal alvo. Não sem razão.

PT – Na lista divulgada nesta sexta-feira, há dois deputados do PT em exercício: Vander Loubet (PT-MS) e José Mentor (PT-SP). O líder da bancada, Sibá Machado, é cauteloso ao falar sobre possíveis processos de cassação. Mais: não admite razões para que o Conselho de Ética da Casa entre em campo para julgar os deputados citados. Ele diz que, desde o caso de Natan Donadon (sem partido-RO), a condenação pela corte já determina perda do mandato. “Se é esse o procedimento, o Conselho de Ética fica com um papel secundário. Acho que no melhor dos casos é acompanhar o procedimento do próprio STF.”

Mesmo os partidos de oposição, como o PPS, ainda analisam o melhor momento de pedir a abertura de processos de cassação. De modo geral, o sentimento é que seria preciso aguardar o avanço das investigações para, assim, obter elementos mais robustos contra os parlamentares citados. Do contrário, até a tradicional morosidade para tentar atrasar processos de cassação seria substituída por uma tramitação relâmpago com o objetivo de engavetar os casos por fragilidade de provas.

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As consequências políticas do escândalo sobre o Executivo são claras. Se os peemedebistas participaram do esquema de corrupção, foi porque existia um esquema de corrupção operando de forma organizada no governo capitaneado pelo governo e pelo partido que administra o Brasil há mais de duas décadas.

Mas não é só por isso que o caso atinge o governo diretamente. Entre os investigados estão os dois primeiros ministros da Casa Civil de Dilma: Antonio Palocci Filho e Gleisi Hoffmann, que foi ministra da Casa Civil de Dilma. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), também aparece. Outro que está na lista é Edison Lobão, que foi ministro de Minas e Energia de Dilma até três meses atrás. Cândido Vaccarezza (PT-SP), o primeiro líder do governo da presidente na Câmara, completa o time – ele não conseguiu se reeleger.

Mensaleiros – A lista de Janot comprova ainda que a impunidade produz corruptos reincidentes. O último escândalo da política brasileira tem personagens envolvidos em outros casos conhecidos. A presença de Fernando Collor (PTB-AL), o primeiro presidente cassado por corrupção na história, é o maior sinal disso. Também estão lá Antonio Palocci, envolvido – entre tantos outros – na quebra do sigilo do caseiro Francenildo, os mensaleiros Pedro Henry e Pedro Corrêa, o senador Renan Calheiros, que quase foi cassado em 2007 por sua relação com empreiteiros. Aparece também Humberto Costa, do escândalo dos sanguessugas. E Roseana Sarney, do caso Lúnus, que a tirou da campanha presidencial de 2002.

Também há espaço para algumas ironias, como a presença de Lindbergh Farias, um dos líderes do movimento dos “caras pintadas”, o “Fora Collor”, ao lado de seu antigo adversário. E a menção ao deputado Arthur Lira, recém-eleito para presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a mais importante da Casa e por onde passarão, no futuro, eventuais pedidos de cassação de mandatos.

O petrolão é tão grave e envolve tantas figuras importantes que, no campo político, pode ter dois desfechos absolutamente opostos: a implosão da engrenagem que une governo e Congresso Nacional ou, por um conchavo salvador, a manutenção de certas figuras no poder – à espera do próximo escândalo.

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