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Lava Jato: PF mira banco BTG em operação baseada na delação de Palocci

Nova fase faz buscas em endereços relacionados ao banco BTG e apura crimes relacionados a propinas contabilizados pela Odebrecht

Por Leonardo Lellis Atualizado em 23 ago 2019, 09h42 - Publicado em 23 ago 2019, 08h19
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  • A Polícia Federal deflagrou, na manhã de desta sexta-feira, a 64ª fase da Operação Lava Jato, baseada no acordo de delação premiada celebrado entre o ex-ministro Antônio Palocci firmado com a PF. O objetivo é apurar irregularidades na venda de ativos da Petrobras ao banco BTG e informações de recursos contabilizados pela Odebrecht na planilha “Programa Especial Italiano”. Parte do conteúdo desta delação foi revelado pelo Radar.

    As medidas foram autorizadas pelo juiz Luiz Antonio Bonat, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Cerca de 80 policiais federais cumprem doze mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, incluindo endereços relacionados ao banco BTG, ao banqueiro André Esteves e à ex-presidente da Petrobras, Graça Foster. Não há ordens de prisão. De acordo com a PF, a investigação trata de fatos abordados em diferentes inquéritos policiais, mas foi impulsionada pelos relatos de Palocci em seu acordo de delação.

    O objetivo desta nova fase é identificar os beneficiários do esquema de propinas registrado pela empreiteira e o funcionamento da entrega de valores ilícitos a autoridades. Uma das investigações, segundo o Ministério Público Federal é a venda de ativos da Petrobras no continente africano ao BTG em valores muito abaixo da avaliação.

    “Verificou-se que, no início do processo, o preço de tais ativos havia sido avaliado entre 5,6 bilhões de dólares e 8,4 bilhões de dólares. Todavia, ao final do processo, 50% desses ativos foram vendidos por 1,5 bilhão de dólares em 2013, valor esse em flagrante desproporção com aquele inicialmente avaliado”, diz o MPF. Também foram apuradas irregularidades como possível restrição à concorrência, acesso pelo BTG a informações sigilosas e aprovação da transação sem ampla discussão no Conselho de Administração da Petrobras.

    A nova fase foi batizada de operação Pentiti, que signfica “arrependidos” em italiano. Segundo a PF, o nome faz referência a termo empregado na Itália para designar pessoas que integraram organizações criminosas e, após suas prisões, decidiram se arrepender e colaborar com as autoridades para o avanço das investigações.

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    O MPF também informa que é investigado o relato feito por Palocci de que André Esteves acertou com o ex-ministro Guido Mantega o repasse de 15 milhões de reais para garantir privilégios ao banco BTG no projeto das sondas do pré-sal da Petrobras. Este encontro teria acontecido, segundo Palocci, em período próximo ao final da campanha de 2010. Também são investigadas informações contidas em e-mails de Marcelo Odrebecht segundo as quais a ex-presidente da estatal Graça Foster teria conhecimento do esquema de corrupção existente, mas não adotou nenhuma providência.

    Reportagem publicada por VEJA nesta sexta-feira mostra a descrição completa do esquema de roubalheira internacional montado pelo PT para obras realizadas em países como Gana, Venezuela, Cuba e Angola. Lula fazia os acertos com as autoridades estrangeiras e mandava a conta para o BNDES. Em troca dos juros camaradas do banco e do acesso aos mercados de fora, as empreiteiras superfaturavam o trabalho para poder irrigar o caixa petista com o pagamento de propinas. Antes da assinatura dos contratos já se sabia que muitos dos governos amigos não pagariam a conta.

    Segundo pessoas que tiveram acesso à delação e foram entrevistadas por VEJA, embora careça de provas, o testemunho de Palocci contém as peças que faltavam no quebra-cabeça da pilhagem nas obras internacionais do BNDES, abrindo essa parte da caixa-­preta do banco. Somente nesse pacote de contratos no exterior firmados entre 2010 e 2014, as empreiteiras nacionais faturaram mais de 10 bilhões de reais e pagaram propinas ao PT no valor total de 489 milhões de reais.

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    Conforme revelou o Radar, Palocci envolveu em seu acordo de delação 12 políticos e 16 empresas em transações supostamente criminosas que chegam a mais de 330 milhões de reais — boa parte pagamento de propinas ao PT e a parlamentares. Muitas das revelações presentes no acordo foram antecipadas por VEJA em diferentes reportagens publicadas em 2017.

    A lista de exemplos envolvendo repasses a campanhas petistas e interesses de empresários é grande, como mostra uma série de publicações do blog Radar nesta quarta-feira, 14. A delação de Palocci não deixa dúvidas: todas as eleições de Lula e Dilma foram financiadas com recursos irregulares de empresas — o que a Lava-Jato já comprovou de diversas formas.

    Entre os detalhes que o Radar revela, Palocci afirmou que apenas o PT recebeu para suas campanhas eleitorais 270,5 milhões de reais, entre 2002 e 2014. Foram doações, parte declarada e outra não, de grandes grupos e empresas em troca de favores recebidos, afirma o ex-petista. Palocci associa cada doação a um benefício específico que, segundo ele, teria sido alcançado por determinada empresa.

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