Alvo de críticas desde a reviravolta nas delações premiadas de executivos do Grupo J&F, que controla a JBS, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta terça-feira em reunião do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que as reações contra as investigações são “estratégia de defesa” e que “muitas pernas tremem” quando várias instituições se unem no combate à corrupção.
“Como não há escusas para os fatos que vieram à tona, tanto são os fatos e escancarados, que a estratégia de defesa tem sido tentar desacreditar a figura das pessoas encarregadas do combate à corrupção”, afirmou Janot, que está em sua última semana no comando da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele será substituído pela futura procuradora-geral, Raquel Dodge, no dia 18 de setembro, próxima segunda-feira.
“Nunca se viu tantas investigações abertas, tantos agentes públicos e privados investigados, processados e presos”, completou o chefe do Ministério Público Federal, para quem as reações são “proporcionais” ao avanço das investigações.
Rodrigo Janot citou frase de Henry Ford ao dizer que “há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam” e mandou um recado aos políticos investigados: “temos que lembrar disso todos os dias e lembrar aos nossos a detratores que não conjugamos dois verbos: retroceder e desistir do combate à corrupção”.
O procurador declarou ainda um “quadro de patrimonialismo, fisiologismo e clientelismo” marca a história do Brasil e citou o poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht: “peço a todos que não considerem normal o que acontece sempre”. Segundo ele, os cidadãos são tão confrontados com os escândalos de corrupção que “quase banaliza” a prática.
Após dizer que nem o mundo nem o Brasil vão acabar com a corrupção, Janot defendeu que se combata “de forma incessante a corrupção endêmica”. O procurador-geral citou que 36% dos participantes de uma pesquisa citaram o combate à corrupção como principal demanda ao MPF, à frente do combate ao crime e do acesso aos serviços públicos. “Isso mostra uma evolução da percepção da sociedade de que o êxito das políticas públicas depende da boa gestão. A sociedade compreende que a corrupção é causa da má prestação de serviços”, disse ele.
Rodrigo Janot também mencionou estudo de 2008 sobre o porcentual do PIB sugado pela corrupção e disse que, atualizando os dados para valores de 2016, o número chegaria a 2% ou 3% do PIB. “Em 2016 isso significaria mais de R$ 100 bilhões, enquanto o déficit primário da união hoje é estimado em R$ 150 bilhões”, comparou o procurador-geral da República.
Até o fim desta semana, Janot ainda deve enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e a formação de uma organização criminosa pelo PMDB da Câmara. Nas duas últimas semanas, ele apresentou ao STF acusações formais contra políticos de PP, PT e a cúpula do PMDB no Senado, todas no âmbito da Operação Lava Jato.
(com Estadão Conteúdo)