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Governo gasta R$ 20 milhões em equipamentos contra espionagem

Preocupado com ataque de drone e atentados contra o presidente, Planalto investe alto em uma redoma de proteção

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 nov 2019, 10h47 - Publicado em 29 nov 2019, 06h00

Jair Bolsonaro costuma comparar sua rotina à de um preso domiciliar sem tornozeleira eletrônica, tantas são as restrições que o cargo impõe. Ele raramente sai às ruas em suas horas vagas — quando o faz, está cercado de um robusto aparato de segurança. A solidão do poder não é um privilégio do ex-capitão, embora sua personalidade o torne cada vez mais refém. O presidente tem certeza de que seus passos são observados 24 horas por dia. Recentemente, enquanto recebia a visita de um amigo durante o fim de semana no Palácio da Alvorada, Bolsonaro arriscou sentar-se à beira da piscina, o que é raro. Os dois conversavam embaixo de um guarda-sol, sem ninguém por perto. O presidente, porém, estava visivelmente incomodado. A todo instante botava a cabeça de lado e olhava para o céu à procura de algo. “Nós estamos muito vulneráveis”, justificou. O interlocutor perguntou o que preocupava o presidente: “Drones.”

A resposta não chegou a surpreender. É sabido que Bolsonaro sempre teve uma preocupação acima do comum com a própria segurança. No início de sua vida parlamentar, ele tinha o hábito de fazer uma espécie de vistoria cada vez que estacionava seu carro na rua. Antes de entrar no veículo, agachava-se para olhar os pneus e a parte inferior, a fim de checar se algum aparelho havia sido afixado enquanto ele estava distante. Até as garrafas de água deixadas dentro da geladeira de sua casa eram alvo de suspeita. Bolsonaro preferia tomar água da torneira a beber aquela que ficava em garrafas já abertas. “Tinha medo de envenenamento”, lembra um colega do Parlamento. Na campanha, ele recusou ofertas de jatos particulares por receio de sabotagem. Para os que acreditavam que esse comportamento revelava sinais de paranoia, o atentado a faca provou que realmente havia inimigos invisíveis que justificavam os cuidados exagerados. No governo, de acordo com sua visão, os inimigos se multiplicaram.

Bolsonaro acredita que, além dos esquerdistas, terroristas têm interesse em aniquilá-lo. Dois de seus aliados de primeira hora confirmaram a VEJA que ele foi alertado sobre a possibilidade de sofrer um atentado do Hezbollah, grupo terrorista libanês. O motivo do ataque: a intenção do governo de transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém — um gesto político em favor de Israel que teria incomodado os árabes. Não há, até onde se sabe, uma única evidência concreta sobre o planejamento de algum ataque, mas Bolsonaro cobrou maior reforço em sua segurança. A Secretaria-­Geral da Presidência e o Comando do Exército estão comprando equipamentos que vão colocar o Palácio do Planalto sob uma redoma, com proteção no céu, em terra e até debaixo d’água. São sistemas de detecção e bloqueio de drones, equipamentos antiespionagem e antiescuta, carros blindados e até instrumentos de mergulho. Esse aparato vai custar cerca de 20 milhões de reais.

NO GABINETE –  Equipamentos vão impedir gravações e escutas clandestinas (Cristiano Mariz/.)

Para justificar a necessidade de segurança aérea, o governo listou ao menos quatro situações que envolveram drones em suposta ação de espionagem. A primeira delas aconteceu em dezembro do ano passado, quando a família presidencial foi filmada durante momentos de lazer na residência oficial da Granja do Torto — onde Bolsonaro e seus parentes se hospedaram na transição do governo. Também há relato de sobrevoo de drones durante a posse presidencial, em detrimento do esquema de segurança montado na Esplanada dos Ministérios, e, logo depois, ao redor do Alvorada. A residência do vice-presidente Hamilton Mourão também teria sido invadida: um drone permaneceu por mais de vinte minutos sobre o Palácio do Jaburu justamente no local em que fica alojada a Guarda Militar e que abriga, além dos seguranças, toda a munição e o armamento da segurança.

O risco dos drones, segundo o Planalto, vai além da invasão da privacidade. Segundo o parecer que sustenta a aquisição do material, há a possibilidade de tais equipamentos servirem como condutores de explosivos e até mesmo de armamentos com capacidade de ser acionados a distância. “O emprego de drones sobre as residências oficiais do presidente e do vice-presidente da República e do Palácio do Planalto representa grave ameaça à integridade física e moral dos dignitários e seus familiares”, diz o relatório. Por questões de segurança, não se especifica o tipo de aparelho que será adquirido. Os fabricantes contatados, no entanto, oferecem um modelo que bloqueia o sinal entre o drone e o controlador, neutralizando o aparelho.

Bolsonaro também quer evitar ser gravado durante suas reuniões oficiais no Planalto. Hoje, antes de entrarem no gabinete presidencial, os convidados são instados a deixar os celulares do lado de fora. Esse procedimento, no entanto, não impediu o presidente de passar por um enorme constrangimento. Recentemente, vazou um áudio em que Bolsonaro pedia a aliados apoio político para o filho Eduardo numa disputa interna do PSL, então partido do presidente. “Se alguém grampeou o telefone, é desonestidade”, vaticinou Bolsonaro, suspeitando que parlamentares do seu próprio partido estariam interceptando clandestinamente suas ligações. É provável que a explicação para esse vazamento seja bem mais singela. Mesmo assim, a Presidência está investindo 7 milhões de reais em equipamentos de segurança eletrônica que vão proteger o Planalto de grampos, câmeras ocultas, dispositivos de escuta de áudio e rastreadores de GPS.

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COMITIVA – Carros terão até pneus blindados e armamento pesado (Cristiano Mariz/.)

No pacote de proteção, a Presidência ainda comprou dezoito veículos blindados, com pneus à prova de balas e suportes para armamentos e munições pesadas. O superesquema de segurança também vai contar com mergulhadores. O Palácio da Alvorada fica às margens do Lago Paranoá. Há um perímetro de segurança sinalizado por boias e redes, que impedem a aproximação de embarcações, mas não de intrusos. Por isso na lista de compras constam máscaras de mergulho, pés de pato e boias de resgate. Os novos equipamentos, segundo documentos do governo, deixam a equipe de contramedidas da Diretoria de Tecnologia da Presidência da República “no mesmo patamar dos principais serviços de contrainteligência de Estado de âmbito mundial”.

Apesar de todo esse aparato e do custo envolvido, o sistema continuará com uma vulnerabilidade — e por um motivo prosaico. O Gabinete de Segurança Institucional insiste com Bolsonaro para que abandone o telefone comum e utilize um criptografado, o que reduziria praticamente a zero a possibilidade de uma interceptação clandestina e, consequentemente, de vazamentos indesejados. O presidente, porém, resiste à ideia. A substituição do aparelho impediria o acesso dele às redes sociais e a aplicativos de troca de mensagens, como o WhatsApp. Durante a apuração desta reportagem, VEJA teve acesso a um conjunto de mensagens que ele enviou através de uma lista de transmissão. Nada de mais se as piadas, os memes e os comentários não fossem de autoria do presidente da República.

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Publicado em VEJA de 4 de dezembro de 2019, edição nº 2663

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