Em depoimentos prestados hoje ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, Milton Schahin, um dos donos do Grupo Schahin, e seu filho, Fernando Schahin, ex-executivo da empresa, relataram ao magistrado como se deu a quitação do empréstimo de 12 milhões de reais concedido pelo Banco Schahin a José Carlos Bumlai. Em prisão domiciliar na Lava Jato, o pecuarista confessou ter destinado o dinheiro ao pagamento de dívidas de campanha do PT. Segundo a Operação Lava Jato apurou, no entanto, parte do valor teve como destino o bolso do empresário Ronan Maria Pinto, preso na 27ª fase da Lava Jato, a Carbono 14, e supostamente envolvido no caso do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002.
Embora ressalte não ser responsável pela parte financeira do grupo, que engloba o banco, Milton Schahin contou a Moro que em 2006, dois anos depois do empréstimo a Bumlai, procurou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para pedir apoio político ao interesse da empresa em um contrato de operação de navio-sonda com a Petrobras.
Segundo o empresário, Vaccari foi evasivo em um primeiro momento, mas, depois de consultar petistas, voltou com uma proposta: o partido, padrinho político do diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, a quem caberia assinar o contrato de 1,6 bilhão de dólares, apoiaria o pleito da Schahin se o acerto com a petrolífera quitasse o empréstimo contraído pelo pecuarista.
Milton Schahin não soube especificar ao magistrado quais petistas avalizaram a proposta de Vaccari, mas seu filho deu a Moro uma pista. Segundo Fernando Schahin, Bumlai o abordou em um evento de um banco internacional, em 2007, e, alegando ter “relações com a Schahin”, perguntou sobre as negociações com a Petrobras pela operação do navio Vitória 10.000. Fernando afirma ter respondido que “estavam em andamento” e, antes de se despedirem, ouvido do pecuarista e grande amigo de Lula que “o presidente está abençoando o negócio”.
A versão de Fernando Schahin confirma a delação premiada de seu tio, Salim Schahin, sócio do grupo a quem cabe a administração do banco. Segundo Salim, “Bumlai chegou a dizer a Fernando que o negócio estava ‘abençoado’ pelo presidente Lula” e “o depoente e seu irmão Milton também receberam de Vaccari a informação de que o presidente estava a par do negócio”. Fernando nega ter participado da operação fraudulenta que compensou o empréstimo com o contrato bilionário.
Apesar da bênção presidencial e do fim da dívida milionária de Bumlai, os Schahin dizem não ter se livrado de pagamento de propinas a diretores da Petrobras e operadores do petrolão. Milton Schahin contou a Moro ter sido procurado em 2006 pelo lobista Jorge Luz, ligado a peemedebistas graúdos, que o teria alertado de que, sem pagar propina a Cerveró, ao então gerente Eduardo Musa e ao lobista Fernando Baiano, a empresa enfrentaria dificuldades para fechar o contrato bilionário de operação do navio-sonda.
Com a voz embargada, Milton Schahin garantiu a Moro “nunca ter dado prejuízo à Petrobras”, mas reconheceu ter pago 2,5 milhões de dólares em propinas no exterior por meio de offshores às empresas Pentagram e DBase, indicadas por Luz para repasses à cúpula da Petrobras.
A cobrança de Zelada – Segundo o empresário, com a Schahin em meio a dificuldades financeiras em 2011, ele buscou um encontro com o sucessor de Cerveró na diretoria Internacional da Petrobras, Jorge Zelada, para renegociar condições de pagamento de leasing à petrolífera.
Recebido no mezanino de um bar no centro do Rio de Janeiro, próximo à sede da estatal, Schahin teria ouvido de Zelada, como condição à negociação, que “eu preciso que você entenda que eu estou trabalhando pelo seu projeto, sempre trabalhei pelo seu projeto, e nunca recebi nada. Agora você vem com esse pedido, não sei se é possível, mas quero dizer que quero 5 milhões de dólares para seguir em frente com o assunto”. Schahin afirma ter negado o pagamento ao diretor da Petrobras, que, preso na Lava Jato, também deporia hoje, mas permaneceu calado diante de Sergio Moro.