Em gravação, Delcídio cita ‘preocupação’ de Temer com ex-diretor da Petrobras
Afirmação foi feita enquanto senador negociava com filho de Cerveró uma suposta influência sobre ministros do Supremo
Gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, mostra relato do senador petista Delcídio Amaral (PT-MS), preso nesta quarta-feira por atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, em que ele afirma que o vice-presidente Michel Temer já teria procurado o ministro Gilmar Mendes para tratar de uma possível soltura do ex-dirigente da estatal, detido desde o início do ano por suspeitas de integrar a quadrilha do petrolão. Segundo Delcídio, que conversa com o advogado Edson Ribeiro e com o próprio Bernardo,Temer estaria “preocupado” com o também ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada, apontado pelos investigadores como um dos responsáveis por recolher propina para integrantes do PMDB.
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Segundo o procurador-geral da República Rodrigo Janot, a estratégia de Delcídio de tentar influenciar ministros do Supremo – foram citados, além de Gilmar, Dias Toffoli, Edson Fachin e Teori Zavascki – revela a “desfaçatez com que se discute a intercessão política na mais elevada instância judiciária brasileira”.
Para a força-tarefa de procuradores da Lava Jato, pelo menos 31 milhões de dólares do esquema foram parar nas mãos de Zelada, do ex-gerente geral da área internacional da estatal Eduardo Musa e do PMDB, responsável pelo apadrinhamento político do ex-dirigente. No esquema, os lobistas Hamylton Padilha, Raul Schmidt Junior e João Augusto Rezende Henriques atuavam como intermediários da negociação, sendo que cabia a Padilha pagar a parte destinada a Eduardo Musa, a Raul Schmidt depositar a propina reservada a Zelada e a João Augusto Henriques pagar o dinheiro sujo ao PMDB. Pelo acordo, a propina era enviada diretamente para contas secretas no exterior.
Segundo a acusação, em troca da propina, Zelada atuou diretamente no esquema ao praticar diversas irregularidades e manipulações para favorecer a companhia e ao não cumprir regras pré-estabelecidas pela Petrobras na celebração de contrato. A Comissão Interna de Apuração da própria estatal concluiu que o contrato não foi submetido à diretoria executiva da Petrobras, como recomendado, não houve a elaboração de um relatório final para a contratação da companhia, as propostas comerciais foram enviadas por e-mail e a diretoria executiva teve acesso a um relatório incompleto sobre o processo.
Confira trecho da conversa entre Delcídio do Amaral e Edson Ribeiro:
DELCÍDIO: Agora, agora, Edson e Bernardo, é eu acho que nós temos que centrar fogo no STF agora, eu conversei com o Teori, conversei com o Toffoli, pedi pro Toffoli conversar com o Gilmar, o Michel conversou com o Gilmar também, porque o Michel tá muito preocupado com o Zelada, e eu vou conversar com o Gilmar também.
EDSON: Tá.
DELCÍDIO: Por que, o Gilmar ele oscila muito, uma hora ele tá bem, outra hora ele tá ruim e eu sou um dos poucos caras…
EDSON: Quem seria a melhor pessoa pra falar com ele, Renan, ou Sarney…
DELCÍDIO: Quem?
EDSON: Falar com o Gilmar
DELCÍDIO: Com o Gilmar, não, eu acho que o Renan conversaria bem com ele.
EDSON: Eu também acho, o Renan, é preocupante a situação do Renan.
DELCÍDIO: Eu acho que, mas por que, tem mais coisas do Renan? Não tem…
EDSON: Não, mas o…, acho que o Fernando fala nele, não fala? DELCÍDIO: Fala, mas fala remetendo ao Nestor.
EDSON: A é, também? Então tudo bem.
DELCÍDIO: Como também fala do Jader, remetendo ao Nestor. EDSON: Então tudo bem. Escolheu o Fernando
DELCÍDIO: Agora, então nós temos que centrar fogo agora pra resolver isto…
EDSON: Mas então seria bom ver Renan olha só…
DELCÍDIO: Não, eu vou falar com ele…
DIOGO: Hoje tem reunião de líderes
DELCÍDIO: Eu falo com o Renan hoje.
EDSON: Tá bom.
DELCÍDIO: Hoje eu falo, porque acho que o foco é o seguinte, tirar, agora a hora que ele sair tem que ir embora mesmo.