Foi preciso uma pandemia para que o seu eterno mantra da renda mínima fosse ouvido? Não exatamente. Aqui no Brasil, a cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, já havia implementado o programa, em 2015. E, no mundo, há movimentos nesse sentido em diversos países, como Finlândia, Quênia e Índia.
Há quanto tempo defende a ideia? Desde a adolescência, quando estava no ginásio e ganhei do meu padrinho um livro sobre a história de Galileu Galilei. Decidi seguir a história dele em busca da verdade e comecei a pensar sobre como poderia mudar o problema da desigualdade no país. Depois, adulto, deparei com a proposta na época em que fui estudar economia nos Estados Unidos e acabei me apaixonando por ela.
O senhor não teve receio de se passar por chato ao bater tanto na mesma tecla? Não, nunca. Sempre me senti muito bem com isso. Eu não desisto. Graças a essa minha insistência, aliás, recebi o título de doutor honoris causa da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica.
A quarentena tem sido produtiva? Sim. Já participei de 165 diálogos com prefeitos, políticos e estudantes que querem saber mais sobre o que eu penso da renda mínima. Recebo entre três e cinco convites por dia, inclusive de fora do Brasil. Conversei com jornalistas da Inglaterra, de Portugal e da França. Foram todos papos de uma hora e meia, duas horas.
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Clique e AssineO senhor era conhecido por gostar de cantar Blowin’ the Wind, de Bob Dylan, e Homem na Estrada, dos Racionais MC’s. Alguma outra música o inspira neste momento? Tenho cantado muito Eu Sei que Vou Te Amar, de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Como a antiga fábula chinesa do velho que movia montanhas, tenho duas grandes delas para remover enquanto estiver vivo: implantar a renda mínima para todos os brasileiros e reconquistar a Mônica Dallari, a mulher que amo e de quem me separei em 2017. É para ela o Eu Sei que Vou Te Amar.
O senhor cantou para ela depois da separação? Muitas vezes. Ela está me ajudando a escrever meu novo livro, sobre minha atuação no Senado. Ainda tenho esperança de voltarmos a viver juntos. Já disse à Mônica: ela é a mulher que Deus criou para mim.
Publicado em VEJA de 15 de julho de 2020, edição nº 2695