A cúpula do PDT tenta forjar uma imagem de unidade em torno do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, mas não consegue esconder as divergências internas. Reunidos na noite desta terça-feira, deputados, senadores e representantes dos diretórios estaduais do partido discutiram em Brasília o cenário criado pelas graves denúncias de corrupção contra o ministro, mostradas em reportagens de VEJA. E decidiram que, dentre opções igualmente ruins, a saída é fingir unidade em torno de Lupi – que esteve na reunião e mais ouviu do que falou.
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Apesar de a maioria dos participantes do encontro concordar com a permanência do ministro, a unidade da legenda é virtual. Durante o encontro, a ala “ética” do partido ouviu críticas do deputado Paulo Pereira da Silva (SP). O também deputado José Antônio Reguffe (DF) e o senador Pedro Taques (MT), defensores do afastamento de Lupi, foram os principais alvos da reprimenda.
“Ele disse que não considerou correto nós pedirmos o afastamento de Lupi por meio da imprensa”, diz Reguffe, que afirma não recuar: “Na minha opinião, o partido não deveria ter cargos no governo e deveria adotar uma postura de independência”. Taques disse aos colegas de partido que também continua a achar a saída de Lupi a melhor solução. A esperada nota de apoio ao ministro não saiu da reunião, em outro sinal da falta de coesão interna no PDT: a moção de apoio ao ministro que circulou durante o encontro não foi aceita por todos os presentes.
Houve também mudanças de opinião de alguns dos principais nomes do partido. O líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA), havia dito publicamente que a legenda deveria deixar a base de apoio de Dilma caso Lupi perdesse o cargo. Agora, adotou um discurso ameno. O presidente da legenda, deputado André Figueiredo (CE), havia sugerido ao “amigo” Lupi que deixasse o posto. Voltou atrás. “Colocamos de forma uniforme a nossa total confiança no ministro”, garantiu após a reunião.
Mas, mesmo entre os defensores da permanência de Lupi no cargo, há divergências. “O ministro não deve sair por denúncias que não se sustentam”, afirmou o deputado Brizola Neto (RJ), sem sinal de que estivesse sendo irônico. Ainda assim, ele admite que há um desgaste dentro da legenda: “O fato de nós termos buscado a unidade do partido não esconde as divergências internas”.
O que os partidários de Lupi não dizem é que a tentativa de fortalecer o ministro deriva da conclusão de que, se ele deixar o cargo agora, não haverá qualquer garantia de que o ministério continuará nas mãos da legenda. Os pedetistas tampouco estão certos de que escaparão da reforma ministerial prevista para janeiro. Escolheram, enfim, o cenário menos traumático: sumir com o discurso ético e deixar a decisão nas mãos da presidente Dilma Rousseff.