Depois de a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) negar habeas corpus a José Carlos Bumlai e mantê-lo na prisão, os advogados do pecuarista enviaram hoje uma petição ao juiz Sergio Moro, que conduz a Operação Lava Jato em Curitiba, na qual pedem a retirada de todas as provas que instruem a ação penal contra o amigo de Lula. A defesa de Bumlai argumenta que, não fosse a interceptação que classificam como ilegal de conversas por mensagens de celular do doleiro Carlos Habib Chater, não se saberia nada a respeito das atividades nada republicanas de seu colega Alberto Youssef junto a diretores da Petrobras, como Paulo Roberto Costa, e a Lava Jato tal como se conhece não teria surgido. Ao pedir a anulação da ação penal contra o pecuarista, a defesa solicitou, de modo indireto, a implosão da operação.
No documento, os advogados Daniela Meggiolaro, Conrado Prado e Lyzie Perfi dizem a Moro que “tais informações foram essenciais para a deflagração das 22 fases que compõem essa extensa operação” e “se não fosse pela interceptação telefônica ilegal de Carlos Habib Chater, jamais se chegaria ao conhecimento de todos os fatos hoje apurados pela Lava Jato”, entre os quais Bumlai.
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Preso em Curitiba desde novembro de 2015 por envolvimento no escândalo da Petrobras, Bumlai confessou à Polícia Federal que tomou emprestados 12 milhões de reais do banco em 2004, dos quais 6 milhões de reais foram repassados por ele ao caixa dois do PT de Santo André. Outra parte do dinheiro, segundo relatou o amigo de Lula, foi enviada a Campinas (SP) para quitar dívidas de campanha.
O pecuarista confessou também que sua dívida com o banco nunca foi quitada e o pagamento que anteriormente declarou ter feito, por meio da venda de embriões bovinos, foi uma simulação. A dívida de Bumlai com o Schahin, segundo o Ministério Público Federal, foi perdoada quando a empresa passou a operar o navio sonda Vitória 10 000, da Petrobras, num contrato de 1,6 bilhão de reais.
Apesar das confissões do cliente e de não haver “ligação direta entre a interceptação ilegal realizada e o requerente”, a defesa do pecuarista pondera que o processo para investigar o envolvimento da Schahin no petrolão depende do inquérito instaurado para investigar a atividade de doleiros que lavavam dinheiro no Posto da Torre, em Brasília, o embrião da Lava-Jato. “Facilmente se percebe que, desde o início, toda a operação está calcada num procedimento cautelar ilícito, o que torna viciados também os acordos de colaboração e todas as demais provas deles decorrentes , sendo de rigor o desentranhamento desse material”, concluem os advogados, que julgam a Lava Jato uma “situação típica daquilo que os estudiosos chamam de teoria da árvore dos frutos envenenados“.
Além da quixotesca petição, a defesa de José Carlos Bumlai anexou a Sergio Moro um organograma cuja função é explicar de maneira simplificada a “ilicitude derivada” que afetaria a operação e todos seus desdobramentos graças ao suposto pecado original.