Um passageiro no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, tem quase três vezes mais chances de ser vítima de crimes do que um viajante em Congonhas, Zona Sul da capital paulista. A taxa de criminalidade no terminal internacional é de 5,5 ocorrências por 100.000 passageiros, enquanto em Congonhas é de dois por 100.000.
O cálculo foi feito com base nas ocorrências, de janeiro a outubro deste ano, registradas pelas Polícias Civil e Federal. A reportagem contabilizou crimes envolvendo pessoas – furto, roubo, homicídio, lesão corporal e desacato – e dividiu os registros pelo número de passageiros em cada terminal.
Especialistas em segurança atribuem o índice de Cumbica ao fluxo de pessoas. “O risco de o criminoso ser pego em Guarulhos é menor. As quadrilhas se difarçam mais facilmente em aeroporto internacional e há mais vias de acesso e saída. Em Congonhas, é mais fácil cercar alguém”, diz o consultor e coronel Carlos Alberto de Camargo, ex-comandante da Polícia Militar.
O consultor em segurança Hugo Tisaka diz também que estrangeiros são alvos fáceis. “Em Cumbica, há mais estrangeiros que não conhecem o aeroporto nem os costumes locais.” Além disso, os passageiros transportam bens mais valiosos.
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População flutuante – O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, divisionário da Delegacia Especializada no Atendimento ao Turista (Deatur) e responsável pelos dois aeroportos, explica que a população flutuante interfere no número de crimes em Cumbica. “Uma pessoa vai viajar e dez a acompanham para dar tchau. Na volta, tem mais quinze para recebê-la”, diz.
O volume de passageiros por dia é de 98.000 em Cumbica, mas o número de pessoas que passa pelo local pode chegar a 150.000 – número equivalente à população de São Caetano do Sul, no ABC paulista. Em Congonhas, são 46.000 passageiros por dia e população flutuante de 60.000.
Os furtos e roubos nos terminais acontecem principalmente no saguão, nos balcões de check-in e nas praças de alimentação, onde os criminosos se aproveitam da distração dos passageiros. Nico afirma que as “gangues andinas” – formadas por colombianos, peruanos, bolivianos e chilenos – são responsáveis por 90% das ocorrências nos dois aeroportos.
Vítima – O executivo Paulo Reis, que viaja toda semana por Congonhas, conta que esperava por um carro quando um jovem se aproximou e pediu informações. Enquanto isso, um comparsa roubou sua pasta. “Foi no ponto cego das câmeras, na última porta do desembarque. Com toda a paciência, ainda expliquei como chegar ao centro. Até falei em espanhol”, diz Reis.
A maior reclamação da polícia é não conseguir prender assaltantes. Os ladrões presos em flagrante por furto podem pagar fiança e ser liberados. “Tem um peruano que já prendemos três vezes neste ano. Ele é solto e volta com nome diferente”, diz Cícero Simão da Costa, delegado titular de Congonhas.
(Com Estadão Conteúdo)