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Corrupção: a pedra no sapato da campanha de Lula

Estagnados nas pesquisas, candidatos partem para o ataque e elegem o tema como prioridade em discursos e propagandas

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 set 2022, 19h31

Não estava no script original, mas, em meio à estagnação nas pesquisas de intenção de voto, as campanhas de Lula (PT) e Bolsonaro (PL) decidiram calibrar o tom dos discursos e das propagandas eleitorais para incluir a corrupção como tema central do debate. Inicialmente, a campanha petista preferia escapar da enrascada falando de assuntos como pobreza, desemprego e inflação. Do lado bolsonarista, a ideia era partir para o ataque só em um eventual segundo turno contra Lula.

A campanha de Bolsonaro decidiu dar uma guinada no tom após constatar que as peças publicitárias na televisão não estavam revertendo apoios ao presidente. Conforme a estratégia inicialmente desenhada, iria às telas um candidato “paz e amor”, com foco em uma pauta de costumes e defensora da família e também priorizando dados relativos a avanços econômicos. A ordem interna era evitar qualquer agressividade no início da corrida eleitoral, decisão avalizada em um primeiro momento pelos articuladores da campanha, que citavam como base pesquisas qualitativas sobre um perfil mais pacífico do eleitor nestas eleições. “A porrada fica para o segundo turno”, dizia um estrategista, que previa um duelo com Lula somente em meados de outubro.

O resultado, porém, não foi o esperado. Após o início oficial da campanha, Bolsonaro se manteve estagnado nas pesquisas de intenção de voto e, conforme dados de diversos institutos, segue enfrentando dificuldades de romper uma diferença de dez pontos para o ex-presidente Lula. Com o diagnóstico em mãos, a ideia de apimentar o debate a um mês do primeiro turno partiu do coordenador da campanha, Flávio Bolsonaro, e do candidato a vice, general Braga Netto, dupla considerada a mais influente no entorno de Bolsonaro.

A proposta, agora, é abandonar a moderação e partir para um tom mais incisivo em meio a uma varredura no passado do petista. “Precisamos relembrar o histórico de corrupção do PT”, afirmou um articulador da campanha. Internamente, a medida é necessária não apenas para reforçar o sentimento antipetista que guindou Bolsonaro em 2018, mas também para aproximar o presidente do eleitorado mais jovem. No entorno do candidato, é comum ouvir de seus auxiliares mais próximos que o eleitor que vai às urnas pela primeira vez não tem uma memória sólida ou um conhecimento profundo sobre os desmandos do PT enquanto esteve no poder.

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A calibragem no discurso foi materializada em uma peça veiculada na última semana em que Lula é chamado por diversos eleitores de ladrão. A propaganda inaugurou também a participação de Braga Netto na televisão. O lado petista, que preferia fugir desse assunto, também acabou se rendendo ao tema da corrupção após Lula ser chamado de “ex-presidiário” por Bolsonaro no primeiro debate entre os dois. Na última semana, foi ao ar uma propaganda que explora a compra de imóveis em dinheiro vivo, revelada pelo portal UOL, por parte da família do presidente.

Coordenador da campanha petista, o ex-governador Wellington Dias afirmou que o partido nunca fugiu “do tema prioritário do povo brasileiro”, em referência ao combate à corrupção, e voltou a repetir que não houve “engavetadores” de investigações nos governos Lula e Dilma. “Lula tem respondido à criminosa bateria de acusações, mas a prioridade é a pauta dos problemas do povo brasileiro, que o Bolsonaro quer esconder, esquecer, criar fakes e pautas da futrica para fugir dos reais problemas do povo. Muitos entram nessa. A campanha não pode deixar nada sem resposta, mas vamos focar realmente na grave crise econômica e social”, disse Dias.

A posição do coordenador petista ilustra dados da pesquisa Datafolha divulgada na última semana. O levantamento mostra o diferente nível de preocupação relativa ao combate à corrupção na hora de votar – enquanto 22% de apoiadores de Lula consideram o assunto fundamental, o número sobe para 40% entre os eleitores de Bolsonaro.

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