O presidente Jair Bolsonaro mostrou-se nesta quinta-feira, 21, animado com a possível inclusão do Brasil na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), como mencionado em Washington na última terça-feira pelo líder dos Estados Unidos, Donald Trump. Na ocasião, o americano declarou o Brasil como um dos principais aliados de seu país na Otan e, “quem sabe”, dentro do Otan”.
“O presidente Trump nos disse que quer incluir efetivamente o Brasil na Otan”, afirmou Bolsonaro, de Santiago, Chile, em sua terceira live transmitida pelo Facebook.
Bolsonaro afirmou que Trump vai sugerir mudanças no estatuto da Otan, a maior aliança militar do ocidente, para incluir países que não estão na sua área de alcance. Não chegou a comentar o valor da contribuição anual de cada membro do pacto. Nos anos 1990, o pleito da Argentina de aderir a essa bloco militar foi negada por razões geográficas.
Como aliado fora da Otan, explicou o presidente brasileiro, o país integrará um grupo de autodefesa – se um país é atacado, todos responderão em sua defesa. Nas Américas, porém, mecanismo similar já existe: o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), invocado pelo Brasil em 2001, depois dos ataques terroristas de 11 de setembro contra os Estados Unidos.
Bolsonaro classificou sua visita aos Estados Unidos, entre os dias 17 e 19, como uma viagem “muito proveitosa” e rebateu o tom crítico da cobertura da imprensa brasileira sobre alguns momentos da visita, como a concessão unilateral de isenção de visto a turistas americanos. O general Augusto Heleno, a seu lado, declarou nunca ter visto um tratamento tão diferenciado a um presidente brasileiro pela Casa Branca. Para ele, houve “tratamento de igual para igual”.
“Como regra, a viagem foi espetacular”, disse Bolsonaro.
Entre os temas da cobertura que o desagradou, o próprio presidente mencionou o fato de o chanceler Ernesto Araújo ter ficado de fora de sua reunião com Trump no Salão Oval, quando trataram das questões mais relevantes e sensíveis da relação bilateral. O líder americano convidou o filho do brasileiro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), o que provocou o descontentamento do ministro das Relações Exteriores. Jamais um encontro entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos se deu sem a presença do chanceler brasileiro. Bolsonaro, entretanto, saiu-se com uma desculpa sem sustentação.
“Vale lembrar que o chanceler dos Estados Unidos também não estava lá”, afirmou, referendo-se ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que não tem o título de chanceler. “Não tem nada a ver. Sempre levam para um lado da maldade, como se tivéssemos fazendo algo de anormal, passando por cima da agenda”, concluiu.
Na gravação deste terceiro live, no Chile, Bolsonaro excluiu o mesmo chanceler Ernesto Araújo, mesmo tendo começado pelo tema da sua visita ao Estados Unidos e estando para iniciar uma nova agenda no exterior. Para acompanhá-lo, o presidente cercou-se de militares: o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o porta-voz do Planalto, general Otávio do Rêgo Barros, o capitão Wagner do Rosário, ministro da Corregedoria-geral da União, e o subtenente Hélio Lopes, deputado federal mais votado do Rio de Janeiro e afiliado político de Bolsonaro.
O presidente queixou-se da cobertura jornalística no Brasil sobre sua visita inesperada à CIA, de seu sumiço no final da manhã de segunda-feira e até do almoço do ministro da Justiça, Sérgio Moro, em uma churrascaria de Washington. “O Moro tem direito de almoçar”, afirmou, para em seguida relatar seu telefonema ao juiz e dar sua opinião de que teria sido mais rápido para ele comer um “podrão”. “Por que não me convidou?”
Quilombolas
Como exemplo do caráter “espetacular” de sua visita, Bolsonaro mencionou a assinatura do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas para o uso da base de lançamento de Alcântara, no Maranhão. Ele mesmo mencionou “haver problemas com a comunidade quilombola” que habita a região e que teme ser forçada do local onde vive há séculos.
“Queremos oferecer trabalho aos quilombolas lá em Alcântara”, afirmou, ao apresentar sua solução para o atual impasse.
Conforme afirmou, a retirada dos quilombolas da área não é considerada por seu governo. “Todos temos a ganhar com o centro de lançamento funcionando: os quilombolas, o Brasil e o mundo”, insistiu.
O presidente cuidou de mostrar-se sensível à causa dos quilombolas de Alcântara. Em 2017, em uma palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, os tratara os descendentes de escravos com desrespeito. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de 1 bilhão de reais por ano é gasto com eles”, afirmara.
Bolsonaro não tocou na questão de fundo sobre a concessão de soberania do Brasil aos americanos ao permitir o uso da base de Alcântara. Mas seu porta-voz adiantou-se a rebater esta tese e fez uma analogia com o aluguel de um apartamento. “Não há demanda de soberania (no acordo)”, afirmou, ao destacar os dividendos financeiros e tecnológicos esperados.