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Bolsonaro está enfrentando um embate político, diz governador de Roraima

Um dos poucos líderes estaduais a apoiar o presidente, ele diz que há um fogo cruzado entre aqueles que pregam parar tudo e os que defendem a economia

Por André Siqueira Atualizado em 7 abr 2020, 00h21 - Publicado em 6 abr 2020, 17h43

O governador de Roraima, Antonio Denarium (sem partido), afirmou que o presidente Jair Bolsonaro está enfrentando um embate político em meio à crise causada pelo novo coronavírus. Na sua avaliação, o presidente da República precisa conciliar demandas estaduais com as medidas adotadas pelo governo federal para mitigar as consequências negativas que a pandemia trará ao país.

Um dos poucos governadores aliados a Bolsonaro, Denarium flexibilizou algumas medidas restritivas no estado e autorizou que alguns setores do comércio, como restaurantes, lojas de materiais de construção e de autopeças atuem através de delivery e do sistema de drive thru, com o que chama de “pagou, levou”. O governador afirma que é necessário encontrar um equilíbrio entre a preocupação com a preservação de vidas e o desenvolvimento econômico dos estados e do país.

Por telefone, Denarium falou a VEJA sobre a situação do estado de Roraima, a relação do presidente da República com outros governadores, e fez uma avaliação do papel desempenhado pelo ministro Luiz Henrique Mandetta à frente do Ministério da Saúde. Para o governador, Mandetta, que está perto de ser demitido por Bolsonaro, faz “um bom trabalho”, e tem conhecimento das particularidades de cada estado.

Confira os principais trechos da entrevista.

Na sexta-feira 3, o estado confirmou a primeira morte causada pelo coronavírus. Como isso afeta as medidas do governo? À medida em que o contágio vai aumentando, vamos repensando nossas estratégias. Aqui em Roraima, conseguimos nos antecipar aos problemas. O primeiro caso foi confirmado no dia 21 de março, mas as aulas já haviam sido suspensas no dia 17. Em paralelo, também estavam suspensas as visitas em presídios e nos hospitais. Na mesma semana da confirmação do primeiro caso, suspendemos o transporte intermunicipal e fechamos as fronteiras com a Guiana e com a Venezuela. A partir de hoje, suspendemos, em consenso com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), o transporte interestadual, já que a única saída de Roraima passa por Manaus, não há outra estrada.

Como tem funcionado o comércio no estado? Está praticamente todo fechado. O que flexibilizamos foi a permissão para a atuação por delivery e drive thru: materiais de construção, autopeças, somente do balcão para fora. Supermercados e postos de gasolina, praticamente da mesma forma. Restaurantes não funcionam mais com salão, somente marmitex. Pagou, levou.

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Não há a intenção de flexibilizar estas medidas? A recomendação é manter como está, ao invés de abrir ou flexibilizar algo. Ficar em casa. Hoje, é mais fácil restringirmos ainda mais do que liberar o funcionamento. Temos poucas indústrias no estado. As que estão operando normalmente têm recebido equipamentos de proteção individual, álcool em gel, com escala de funcionários, redução dos turnos, tudo para preservar a população.

Qual é o impacto da crise para o estado? O governo federal se comprometeu em recompor o Fundo de Participação dos Estados (FPE) para repassar o mesmo valor recebido em 2019 [no ano passado, Roraima recebeu cerca de 3 bilhões de reais]. Mas em março já recebemos 17 milhões de reais a menos de FPE. Solicitamos a recomposição ao Ministério da Economia, mas não recebemos a diferença. Além disso, nossa arrecadação de ICMS e IPVA caiu cerca de 40% para o mês de abril. Em março, houve redução de mais de 50% na emissão de notas fiscais eletrônicas. E no mês de maio será muito pior, porque está praticamente tudo parado.

Há risco de o sistema de saúde estadual entrar em colapso? Até agora, são 42 casos e uma morte. O sistema de saúde está, sim, sobrecarregado, mas acredito que estamos achatando a curva de contágio. Para evitar o colapso do sistema, suspendemos a realização de cirurgias eletivas e desocupamos um bloco do Hospital Geral do estado para atender pacientes com coronavírus. Contratamos leitos de retaguarda na rede privada para atender o Hospital Geral e estamos finalizando a entrega de um hospital no estádio Canarinho, em Boa Vista, para dar suporte de mais de 80 leitos de retaguarda.

O que tem sido feito para amparar venezuelanos e indígenas no estado? Por integrarem um grupo que vive quase na linha da pobreza, há uma grande preocupação com os cerca de 100 mil venezuelanos e 100 mil indígenas que vivem no estado. Deste total, cerca de 7.000 venezuelanos são abrigados pelo Exército, fruto da Operação Acolhida, do Ministério da Defesa. Estamos entregando uma área de proteção e cuidados destinada a venezuelanos e brasileiros do estado contaminados com o vírus. A previsão é que o espaço possa receber até 1.200 pacientes, com 200 leitos de UTI. Até o final de semana, estarão disponibilizados 80 leitos, e a área será ampliada à medida em que o número de casos aumenta.

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Como o senhor avalia a atuação do presidente Bolsonaro na crise e o embate com os governadores? Não é momento de briga política, de fazer politicagem. É momento de trabalhar pela vida das pessoas e pela manutenção dos empregos. Não dá para o país parar totalmente. Por isso o presidente defende o isolamento vertical. Se não houver entendimento equilibrado entre economia e saúde, a crise será muito maior no futuro. Os estados estão passando por uma situação financeira muito delicada. Em Roraima, nosso endividamento é muito alto, cerca de 30 vezes a nossa receita mensal total. Bolsonaro está enfrentando um embate político, está no fogo cruzado entre aqueles que defendem parar tudo, os que defendem a economia e quem quer equilíbrio.

Qual governador está preocupado com política? Não farei comentários sobre isso. Da minha parte, prevalecerá a preocupação com a saúde das pessoas.

O isolamento vertical contraria as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde. Isso não é prejudicial ao país? Defendo, primeiro, a saúde e a vida das pessoas. Mas olho, também, a parte econômica. Acredito que não é hora de briga política. Um tem que reconhecer que errou aqui e o outro reconhecer que errou ali. Mandetta e Bolsonaro precisam chegar a um consenso.

Qual a opinião do senhor sobre Mandetta? O ministro está conduzindo de forma muito serena e séria o trabalho do Ministério da Saúde.

O presidente cogitou “usar a caneta” para demitir quem “está se achando” e “virou estrela”. Muitos entenderam que é um recado para Mandetta. Como o senhor analisa a situação? Não é momento de nenhuma mexida. É momento de diálogo, de amenizar crises. Mandetta tem o domínio do cenário, sabe as particularidades de cada estado. Mas Bolsonaro tem uma personalidade forte e autêntica. Não posso dizer o que ele deve ou não fazer, mas nosso pensamento vai mudando. Se o quadro vai progredindo, vamos adaptando nossa postura. O pico da crise deve ocorrer até maio, mas, diante das medidas já adotadas pelo governo federal, o cenário não deverá ser tão grave como tem sido na Itália e na Espanha, por exemplo.

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Se Mandetta domina o cenário, não é um erro grave ameaçá-lo de demissão? Tudo o que gera instabilidade é ruim. Temos que trabalhar com credibilidade e harmonia. Bolsonaro tem a caneta na mão e pode usá-la em qualquer ministério, como ocorreu recentemente na Casa Civil. Alguma alteração pode ser feita, mas não acredito que não seja a hora de mexer. Mas a decisão parte da avaliação da cúpula do governo. Mandetta faz um bom trabalho.

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