Desde que disputou o governo de São Paulo pela primeira vez, em 2002, Geraldo Alckmin repete um mantra quase enfadonho: “Eu fui copiloto de um grande político, o engenheiro Mário Covas”. Foi assim em todas as eleições, numa toada que fez dele quatro vezes governador do mais rico e populoso estado do país, mas que nunca o projetou de fato como o candidato de centro-direita capaz de desalojar o PT – e sobretudo o ex-presidente Lula — da cadeira que administra o Brasil.
Neste sábado, Alckmin será escolhido para comandar o PSDB, num evento em Brasília, e discursará como postulante oficial dos tucanos ao Palácio do Planalto. Ladeado por uma nova geração de marqueteiros e jornalistas, o tucano se apresentará como um político castigado pela derrota que nunca esqueceu, justamente para Lula, em 2006, e a quem convida a um “tira-teima” doze anos depois, mas com a tentativa, quase hercúlea, de unir o PSDB — partido para o qual o verbo unir nunca fez sentido. Terá ao lado políticos a quem o brasileiro hoje rechaça, segundo pesquisas recentes, e a sombra do último candidato da legenda à Presidência, o mineiro Aécio Neves – candidato desta vez a não ser fotografado abraçado a ninguém neste sábado.
A partir de hoje, Alckmin tem um rival certeiro, esteja ou não ele na cédula: Lula. Assim será o seu discurso, como informou VEJA na sexta: “Lula será condenado pelas urnas e pela maior recessão da História”. Sobrarão ainda referências às reformas do governo Michel Temer e ao desembarque tardio, porém até hoje não executado, da legenda da Esplanada dos Ministérios. O PSDB fica ou vai dizer adeus a Temer? Tudo isso dependerá de um arranjo cuja equação termina em apoio para 2018 – leia-se: tempo de TV na campanha eleitoral ou dividir os votos da centro-direita com um tiro de festim ou até o apoio a uma chapa alternativa de centro.
O PSDB tentou ajeitar as coisas: o governador de Goiás, Marconi Perillo, aliado de Aécio, assumirá a agremiação quando a candidatura do paulista ao Palácio do Planalto envergar-se ao alto e acima, os conhecidos nomes de São Paulo terão espaço – é sabido que José Serra quer voltar ao governo de São Paulo e que o prefeito paulistano, João Doria, se assustou com a popularidade baixa na cidade que prometeu chacoalhar –, além dos mineiros que ocuparão cargos na burocracia partidária, mas sem grandes pretensões depois que Aécio foi flagrado fazendo algo parecido com o que Alckmin pretende bater panela na campanha: “Voltar à cena do crime”.
Ainda que o cenário eleitoral de 2018 seja muito incerto, a entrada do tucano na disputa – não se trata de assumir só o PSDB hoje – joga alguma luz no tabuleiro. Lula é candidato se a Justiça deixar, o deputado Jair Bolsonaro, ainda que não se saiba ao certo por qual partido, e Marina Silva (Rede) estarão na corrida.
Além disso, resta sempre a matemática do vice – e dos tantos partidos satélites dos candidatos com chances reais. Nesse tabuleiro, Alckmin tem um trunfo: o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) – “o vice dos sonhos”, segundo tucanos, mas cujo favoritismo ao governo da Bahia, o quarto colégio eleitoral do país, deve colocá-lo em outro rumo. O tucano até pode tentar sacar as bombas da Sabesp – companhia híbrida de saneamento – que emprestou ao Nordeste como parte do discurso contra a seca, mas sabe que Lula ou Marina, por exemplo, conversam mais com esse eleitorado do que ele. Tem a seu favor o peso de parte da região Sul – o Rio Grande do Sul é um problema para o PSDB, dado o histórico do PT raiz, mas o Paraná da Lava Jato compensaria? E o agronegócio do Centro-Oeste?
Resta saber se, a despeito do discurso deste sábado, Alckmin será de novo o “copiloto” que o eleitor paulista tanto conhece ou se conseguirá ganhar a simpatia de outro público: a começar pelos 34% que afirmam querer a volta de Lula ao poder, segundo a última pesquisa Datafolha.