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A terceira onda: crise ambiental nubla o Brasil pós-Covid

País vive sob risco de boicote externo caso queimadas e devastações não diminuam

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 jun 2020, 11h27

Na última terça-feira (9), o vice-presidente Hamilton Mourão insuflou dados sobre a preservação ambiental no país. Logo após dizer que a imagem nacional “vem sendo extremamente atacada de forma injusta”, o general anunciou que o desmatamento em maio caiu ao menor patamar histórico. Ninguém soube explicar de onde saiu tal dado, e a promessa é a de que na próxima semana seja divulgado um relatório sobre a operação comandada pelo vice na Amazônia. O que se sabe até agora é que, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento em maio provocou a destruição de 829 quilômetros quadrados na região, a mais alta taxa desde 2015. E, de forma consolidada, o desmatamento na região aumentou 34% em um ano, devastando mais de 10 mil quilômetros quadrados da floresta entre agosto de 2018 e julho de 2019 – índice, portanto, que reflete apenas metade do primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro.

Além de algum reparo nos números, a declaração de Mourão demonstra o esforço do país em lustrar o cenário ambiental, um tanto deteriorado aos olhos do mundo. Em Brasília, setores do governo chamam de “terceira onda” o que pode vir nos próximos meses, quando espera-se que a pandemia do coronavírus comece a arrefecer e a economia volte a girar. Os meses entre agosto e setembro, quando a chuva cessa na região amazônica, são um período de festa para as queimadas criminosas, provocadas principalmente para o avanço da pecuária. Foi justamente neste período do ano passado, diante das cenas da floresta em chamas que correram o mundo, que a Noruega decidiu suspender o repasse de 133 milhões de reais ao Fundo Amazônia, destinado à preservação da área.

“Vamos sofrer um ataque externo de ambientalistas. Temos índios morrendo de coronavírus e logo começam as queimadas. Toda a Europa, já com controle da Covid-19, ao lado de organismos internacionais, vai se levantar contra o país”, prevê um oficial ligado à cúpula do Exército. O vice-presidente, que está no comando do Conselho da Amazônia desde maio, tem mantido conversas com embaixadores, empresários e jornalistas estrangeiros prometendo soluções para a crise na floresta e em busca da retomada da credibilidade no país, além das visitas constantes às regiões sob risco.

Em conversa com VEJA, um importante embaixador afirma que o cenário não é animador. “A percepção externa não é muito boa. A impressão é que a fala e o fato não correspondem – falam uma coisa, mas o fato é outro”, afirmou. “A única coisa que importa é que o Brasil mostre que o governo tem uma política que resulta em desmatamento menor. Por enquanto, não há resultados. A cooperação é baseada em uma visão comum de um futuro onde é possível crescer economicamente e, ao mesmo tempo, preservando o meio ambiente. Se essa missão comum não existe mais, nós temos realmente uma situação difícil”, afirmou.

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O descompasso econômico-ambiental ameaça o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, amparado em pilares sustentados na agenda ambiental. O ex-embaixador Rubens Barbosa, hoje presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), alerta para as sanções políticas, econômicas e comerciais aplicadas por países desenvolvidos. “São boicotes contra o acordo com a União Europeia e são essas razões que hoje acarretam o impacto sobre o comércio exterior brasileiro. Grandes empresas que fazem financiamento no exterior estão começando a incluir o elemento ambiental. A União Europeia, por exemplo, está fazendo um acordo de meio ambiente dentro do pacote para recuperar a economia que proíbe empresas de comprarem produtos de regiões onde há desmatamento. O governo vai ter de fazer um esclarecimento no exterior e restabelecer a credibilidade”, diz.

Coordenador do Programa de  Monitoramento da Amazônia, vinculado ao Inpe, Cláudio Almeida ressalta ainda que o país não vai conseguir cumprir o acordo firmado na COP-15, quando ficou convencionado que em 2020 o desmatamento estaria na marca dos 4 mil quilômetros quadrados – o último dado aponta para os 10 mil quilômetros. “O desmatamento é cruel demais para os negócios. Daqui a pouco, vai haver uma grande dificuldade para vender os produtos, porque vai estar colado nele um selo de que é ecologicamente inadequado. Esse desgaste de imagem para um país como um todo é preocupante”, afirma.

“A gente tem de buscar mais cadeias produtivas que consigam conviver com a floresta e fazer investimento para ampliar a produção desses bens e produtos. O modelo econômico vigente parte do princípio que é necessária a substituição da floresta por outra atividade. O que a gente tem de buscar é um modelo econômico que possa mudar esse paradigma e produzir dentro de um ambiente florestal”, completa o coordenador do Inpe.

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