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A ofensiva de Valdemar Costa Neto após vitórias nas eleições legislativas

O cacique atua para dar mais peso ao PL, mira a presidência do Senado e já incomoda os aliados do Centrão

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 out 2022, 16h10 - Publicado em 29 out 2022, 08h00

Condenado e preso no escândalo do mensalão, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, subiu nas eleições de 2022 mais alguns degraus em sua retomada política desde que saiu da cadeia, em novembro de 2014. Sempre operando nas sombras, colheu nas urnas os frutos da filiação do presidente Jair Bolsonaro e da montanha de votos bolsonaristas: o partido do qual é “dono” elegeu oito senadores e 99 deputados federais, as maiores bancadas nas duas Casas. De quebra, assegurou uma dinheirama dos fundos partidário e eleitoral que pode chegar a 1 bilhão de reais. Com poder garantido no Congresso pelos próximos quatro anos, ganhe quem ganhar a eleição presidencial entre o seu aliado Bolsonaro e o seu ex-aliado Lula, Valdemar atua nos bastidores para dar ainda mais peso político a sua legenda e mira posições de comando no Legislativo — o que já incomoda até antigos aliados do Centrão.

Um de seus focos principais é conquistar o Senado. Aliados do cacique dizem que o PL conversa com uma lista de dez senadores em meio de mandato, mantida sob sigilo, a fim de atrair parte deles e elevar a bancada para algo próximo a vinte nomes — o número atual, incluindo os eleitos, é quinze. No horizonte das articulações está a cadeira ocupada hoje por Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “A proporção que o partido e a base aliada tomaram faz crer que a eleição do Senado passa naturalmente pelos governistas, especialmente o PL”, diz Carlos Portinho (PL-RJ), o líder de Bolsonaro na Casa. Evidentemente, o plano depende da vitória do presidente no pleito.

Esses planos de expansão do PL já provocam temores na base aliada. Dona da maior bancada na Câmara a partir de 2023, a sigla também está de olho em deputados eleitos por partidos que não atingiram a cláusula de barreira. O sinal de alerta está ligado principalmente no PP, que tem como prioridade reeleger Arthur Lira (AL) no comando da Câmara — a sigla, porém, viu a bancada cair de 57 para 47 deputados. Embora o PL seja mais numeroso, condição que favoreceria a indicação de um nome à presidência, aliados de Lira citam haver um acordo garantindo aliança com Valdemar.

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Interlocutores do cacique do PL dizem, no entanto, que ele tem as suas condições: sabe da força de Lira junto ao Centrão — sobretudo se Bolsonaro for reeleito, mas também caso Lula vença a disputa presidencial — e admite apoiá-lo agora, contanto que ele e o PP retribuam o gesto ao PL daqui a dois anos. “Acredito que haverá uma coalizão em torno de Lira pela recondução. Não tem porque dividir se ele está com o governo e é leal”, afirma Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente do partido. “Não temos a vaidade de falar ‘fizemos a maior bancada, queremos a presidência’. O consenso pesa mais do que isso”, pondera o vice-presidente da Câmara, Lincoln Portela (PL-MG).

REAÇÃO - Rueda e Lira: a aliança entre União e PP avança após o crescimento do PL -
REAÇÃO - Rueda e Lira: a aliança entre União e PP avança após o crescimento do PL – (União Brasil/PP/Arquivo pessoal)

Como as nuvens da política podem mudar de uma hora para outra, ainda mais dentro de um horizonte cheio de velhas raposas, já está em curso uma espécie de plano B em caso de rompimento do acordo. Ele consiste na aproximação do PP com o União Brasil para a formação de uma federação ou um bloco partidário no Congresso. O primeiro passo já foi dado em um jantar, em Alagoas, entre o próprio Lira e o vice-presidente do União, Antonio Rueda, no dia 30 de setembro. Uma fusão entre os partidos foi cogitada, mas descartada. Além da presidência da Câmara, as articulações têm como pano de fundo postos estratégicos como a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante, e a Comissão Mista de Orçamento. Se a aliança for firmada, as siglas passam a ser o maior bloco da Câmara, com 106 deputados, o que ajudaria a neutralizar o PL. As condições de Valdemar para um acerto com Lira esbarram também em outros partidos governistas. O presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), outro prócer do Centrão, já disse que espera o apoio de Lira em 2025.

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Antes do apertado segundo turno presidencial, que pode manter o PL de Valdemar no Palácio do Planalto ou instalar de volta por lá o PT, um antigo aliado, é incerto que os planos de expansão do cacique darão certo. O que já dá para contar, contudo, é com a centralidade do PL seja qual for o presidente — em caso de reeleição, fala-se que ele espera ampliar espaços no governo e reduzir o protagonismo do PP de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil. Por outro lado, apesar da boa relação com o PT e do governismo compulsivo de Valdemar, cujo apetite por cargos lhe rendeu um feudo no setor de transportes nas gestões petistas, uma adesão a um governo Lula não seria tão simples, porque o PL concentra hoje a nata do bolsonarismo. “A atração de Lula com a bancada é muito difícil de ocorrer novamente”, avalia Portinho. Em se tratando de Valdemar, contudo, como mostra a história recente, convém não descartá-lo antes da hora.

Confira a apuração do resultado do segundo turno das eleições 2022

Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813

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