Cameron decide faltar a último debate eleitoral na TV
Com uma ligeira vantagem nas pesquisas de opinião, o atual primeiro-ministro teme que tem mais a perder se der chance para seus adversários o criticarem no debate ao vivo
Os líderes dos dois principais partidos políticos da Grã-Bretanha traçam estratégias diferentes para o debate da TV nesta quinta-feira, o último em uma campanha eleitoral indefinida: o primeiro-ministro David Cameron não vai participar, e o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, decidiu comparecer. Com a maioria das pesquisas de opinião mostrando o Partido Conservador, de Cameron, e o Trabalhista, de oposição, quase empatados antes da votação, marcada para 7 de maio e tida como a mais apertada eleição britânica desde os anos 1970, ambos estão buscando cada voto entre os eleitores indecisos. Cameron teme que exposição possa desgastá-lo ao ser confrontado com temas delicados. Miliband, ao contrário, quer aparecer mais para poder criticar o atual governo e explicar suas ideias.
O debate da BBC, que será televisionado ao vivo hoje nos lares britânicos, contará com Miliband ao lado dos líderes de partidos escoceses e galeses, dos Verdes e do Partido da Independência. Além de Cameron, Nick Clegg -o líder dos liberais-democratas, parceiro minoritário da coalizão de governo -, também não vai participar. Cameron, que se saiu mal no primeiro debate televisionado da Grã-Bretanha, tem uma taxa de aprovação pessoal superior à dos rivais, e seus assessores temiam que ele tivesse mais a perder do que Miliband. A pesquisa encomendada pelo jornal The Times mostra os conservadores e trabalhistas empatados com 34% das intenções de voto. Já a pesquisa do The Guardian aponta 39% para os conservadores e 33% para os trabalhistas, num empate técnico considerando a margem de erro.
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Miliband superou as expectativas em um debate entre líderes partidários este mês e numa entrevista pré-eleitoral televisionada em março, e pode ampliar seus ganhos com seu desempenho seguro na frente das câmeras. Por outro lado, por ficar longe do debate, Cameron deixa a porta aberta à acusação de covardia política e corre o risco de os outros partidos se unirem no ataque à ele, que estará ausente. “Se você está se candidatando para o cargo de primeiro-ministro, o mínimo que o povo britânico espera é que você se apresente à entrevista de emprego”, disse Miliband nesta quinta-feira.
Mas o evento também é um risco para Miliband. Como o único participante que poderia tornar-se primeiro-ministro, ele espera mostrar suas credenciais de liderança e suplantar a grande diferença entre a sua avaliação pessoal e a de Cameron. A líder nacionalista escocesa Nicola Sturgeon, cujo partido ameaça varrer os trabalhistas da Escócia, deve unir-se às legendas de esquerda contrárias às medidas de austeridade nas críticas a Miliband, já que todos eles estão competindo para tirar votos dos trabalhistas.
Ironicamente, já que nenhuma sigla tem condições de conquistar uma vitória retumbante, Miliband poderia ter de depender de um ou mais desses mesmos partidos para governar. Nicola tem dito repetidamente que estaria disposta a apoiar um governo trabalhista em troca de concessões. Miliband descartou a possibilidade de um pacto formal, mas não de um acordo.
(Da redação)