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Rinkeby, o pesadelo da ultradireita sueca

Para se defender de medidas discriminatórias, bairro dos imigrantes garante os votos na esquerda

Por La Vanguardia
20 set 2010, 15h43

Nos últimos anos, chegaram tantos somalis que em Estocolmo o bairro é conhecido como pequeno Mogadiscio

Rinkeby encarna tudo o que a ultradireita detesta. Um bairro a apenas dez estações do metrô do centro de Estocolmo, onde as lojas de roupa vendem chadors e hijabs, os restaurantes servem kebabs e café turco, nove entre dez habitantes são imigrantes ou filhos de imigrantes, e pelas ruas se fala somali, espanhol, turco, bósnio, persa, árabe… e com sorte um pouco de sueco.

“Aí, não. Os democratas da Suécia não colocam os pés aqui”, disse o salvadorenho Eduardo Mejía, referindo-se ao partido de direita, enquanto distribui folhetos da Coalizão Rubro-verde que advertem em nove idiomas: “Vote; não arrisque que os racistas entrem no Parlamento”.

Diante do local de votação, uma ferida de guerra: as ruínas de um centro juvenil incendiado no começo do verão. Jovens, irritados ou talvez simplesmente entediados porque não os deixaram entrar numa festa no instituto decidiram queimar o prédio. Depois enfrentaram a polícia anti-distúrbios com pedradas e causaram outros nove incêndios no bairro.

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Para Ann-Margarethe Livh, candidata municipal de esquerda, o episódio é uma consequência do esquecimento que sofreu Rinkeby durante os últimos quatro anos de governo conservador. “Fecharam tantos centros culturais, e num bairro assim é mais importante do que nunca que existam centros públicos aonde os jovens possam ir, porque seus pais não podem pagar aulas de vela ou de tênis, e eles não têm dinheiro nem para ir dançara no centro de Estocolmo.”

Viúva de um chileno e moradora de Rinkeby há 30 anos, ela explica que o bairro tem cada vez menos vizinhos suecos e que os imigrantes estabelecidos há mais tempo, como finlandeses e latino-americanos, também estão indo embora. “E já sabemos o que acontece quando os serviços públicos se deterioram e as pessoas com alguma possibilidade vão embora: nasce um gueto. Ainda não é o caso de Rinkeby, mas se seguir assim, será.”

Eduardo Mejía, que chegou a Rinkeby em 1982 fugindo da guerra civil em El Salvador, também sente que o bairro está mudando. “Antes, o ambiente era mais multicultural. Havia gente de todas as partes e todos nos misturávamos. Meus filhos cresceram aqui e desde pequenos se acostumaram à diversidade, a ouvir dezenas de idiomas a cada dia. Hoje é diferente, Rinkeby está se enchendo de somalis. Não digo isso como algo mal, mas é inegável que o ambiente mudou.”

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Nos últimos anos, chegaram tantos somalis que em Estocolmo o bairro é conhecido como pequeno Mogadiscio. No ano passado, os serviços secretos suecos alertaram que a milícia islâmica somali Al Shabab estava recrutando jovens em Rinkeby para a guerra santa na Somália.

Que Rinkeby seja um bairro de esquerda fica evidente pelo fato de que nas praças só existam social-democratas, a esquerda e os verdes. Mas os moderados do primeiro-ministro que deixa o cargo, Fredrik Reinfeldt, também têm seus votos. Rahma Dirie, de 27 anos e origem somali, está na porta do local da eleição distribuindo filipetas. Até hoje sempre votou nos social-democratas, mas mudou de lado quando viu “tudo o que os conservadores conseguiram”. “Quando emigramos para a Suécia nos anos 90, meu pai ficou 13 anos sem trabalho. Treze anos! Tivemos que ir para a Noruega. Creio em um país em que as pessoas possam ser autônomas e prosperar sem depender do estado. E os moderados são os únicos que conseguiram isso”, assegura.

Rahma explica a quem quiser ouvir que os moderados construirão a primeira mesquita de Rinkeby. “Os social-democratas, tantos anos no governo e nos deixaram rezando nas ruas.” Ann-Margarethe Livh tem outra opinião. “A direita promete a eles uma mesquita quando este bairro precisa de mais investimentos e mais empregos (50% dos moradores são desempregados). Claro que não é a primeira vez na história que se usa a religião para comprar votos”, suspira.

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