Oposição desmente reunião com Mubarak e rejeita diálogo
Protestos contra o regime ditatorial do presidente egípcio já duram dez dias
“Nossa decisão é clara: não haverá negociações com o governo antes que Mubarak saia. Depois disto, estaremos prontos para dialogar com Suleiman”
Mohammed Abul Ghar, porta-voz da Coalizão Nacional pela Mudança
Representantes dos partidos da oposição do Egito desmentiram nesta quinta-feira o anúncio oficial realizado pelo governo sobre o início do diálogo entre o vice-presidente, Omar Suleiman, e as demais forças políticas do país. A Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne os principais grupos de oposição, rejeitou ainda qualquer diálogo com o regime se o ditador Hosni Mubarak não renunciar.
Nesta quinta, a televisão estatal egípcia divulgou a notícia de que Suleiman tinha começado a dialogar com a oposição egípcia, dois dias depois de Mubarak ter anunciado que essa seria uma de suas funções no cargo de vice. Mas o dirigente do partido Ghad, Ayman Nour, afirmou que “as informações são falsas” e que “não houve participação em qualquer tipo de conversa”. “O sangue ainda está derramado no solo da Praça Tahrir”, lamentou.
“Nossa decisão é clara: não haverá negociações com o governo antes que Mubarak saia. Depois disto, estaremos prontos para dialogar com Suleiman”, declarou ainda Mohammed Abul Ghar, porta-voz da Coalizão Nacional pela Mudança, que tem como membros o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, além de integrantes da poderosa Irmandade Muçulmana e do movimento Kefaya.
Violência – Os confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários ao presidente Hosni Mubarak voltaram a se intensificar nesta quinta-feira. O Exército criou uma “zona neutra”, de cerca de 80 metros, próximo à praça central, para tentar isolar os grupos rivais. Porém, ambos voltaram a se atacar com pedras. Os favoráveis ao governo chegaram a invadir a área isolada, mas os militares os forçaram a retroceder.
O Ministro da Saúde divulgou pela TV estatal que cinco pessoas morreram desde quarta-feira, vítimas da violência na praça. Foram levadas aos hospitais 836 pessoas, das quais 86 continuavam internadas, segundo Ahmed Samih Farid. Desde o início dos protestos, que já duram dez dias, pelo menos 100 pessoas morreram, mas, segundo a ONU, esse número pode chegar a 300. Não há cifras oficiais, e os números são frequentemente contraditórios.