Vice-presidente do Egito diz que diálogo depende de fim dos protestos
Suleiman pede que toque de recolher seja respeitado e que manifestantes voltem para casa
O vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, pediu nesta quarta-feira o fim dos protestos contra o governo que tomaram conta no país desde o fim de janeiro e afirmou que o diálogo dos governantes com as forças políticas “depende do fim das manifestações”.
Falando no canal estatal do Egito, Suleiman pediu que os manifestantes, tanto pró quanto contra o governo, voltem para casa e respeitem o toque de recolher imposto pelas autoridades “para restaurar a calma”. Segundo Suleiman, “os participantes dessas manifestações já mandaram sua mensagem, tanto os que pedem reformas quando os que saíram em apoio ao presidente Hosni Mubarak.”
Nesta quarta-feira, o nono dia de protestos em favor da renúncia do presidente Hosni Mubarak, partidários do ditador egípcio, que está há 30 anos no poder, entraram em confronto com os contrários ao governo. Segundo o Ministério da Saúde, os incidentes deixaram mais de 600 feridos. Um policial morreu ao cair de uma ponte.
Suleiman foi nomeado para o cargo no último dia 29. Ele é o primeiro vice-presidente de Mubarak, que o apontou após as pressões populares.
Tiros – Disparos foram ouvidos no centro do Cairo na noite desta quarta-feira. De acordo com a rede Al-Jazira, os grupos de manifestantes anti-Mubarak haviam sido dispersados pelos militares, que montaram uma barricada para separá-los. Os manifestantes, porém, voltaram a se aproximar e um veículo blindado fez disparos para o alto, para novamente acabar com os tumultos. Há relatos, ainda, de que os egípcios pró-Mubarak estão no topo de edifícios na Praça Tahrir, de onde atiram pedras, garrafas e bombas incendiárias.
Repressão – O atual líder já anunciou que não concorrerá à reeleição em setembro, mas a população segue pedindo sua renúncia imediata. Apesar do discurso apaziguador de Mubarak na noite de terça-feira, suspeita-se que ele tenha usado violência para reprimir as manifestações hoje. Isso porque há denúncias de que entre os manifestantes pró-governo são policiais à paisana agredindo civis e jornalistas.
A repressão do governo chegou à cobertura jornalística. O jornal O Estado de S.Paulo informa que o quarto em que a reportagem do diário está hospedada no Cairo foi invadido por agentes de segurança do governo egípcio à procura de câmeras fotográficas nesta quarta-feira. Segundo o repórter Jamil Chade, seis homens, três deles armados, invadiram o quarto do hotel, que fica na praça Tahrir, epicentro das manifestações contra o regime de Mubarak. Após entrarem no dormitório, os oficiais procuraram câmeras fotográficas. Após não encontrá-las, disseram que era proibido tirar fotos da varanda. Perguntados do motivo da proibição, não responderam e foram embora.
O repórter Anderson Cooper, da CNN, e dois correspondentes da agência Associated Press foram agredidos. Cooper disse que ele e sua equipe foram atacados por partidários do presidente Hosni Mubarak. Posteriormente, a CNN informou que ninguém ficou ferido com gravidade. Jornais europeus informaram que um jornalista belga também foi agredido, detido e acusado de espionagem por pessoas não identificadas em trajes civis.
A mídia israelense afirmou que três jornalistas de Israel – dois membros de uma equipe de TV e um escritor trabalhando para um site árabe-israelense – foram detidos por violar o toque de recolher imposto pelo governo egípcio. A Al Jazira afirmou que a polícia prendeu seis de seus jornalistas na segunda-feira por várias horas e tomou a câmera do grupo.
Na última sexta-feira, o jornalista da BBC Assad El Sawey afirmou ter sido espancado com barras de aço pela polícia secreta egípcia. Ele disse que policiais à paisana o detiveram mesmo depois de ter se identificado como repórter. Ele sofreu ferimentos na cabeça e levou pancadas com cassetetes elétricos. Na ocasião, El Sawey afirmou que a polícia secreta prendeu diversos jornalistas e os levou em boleias de caminhão.
Os distúrbios no Egito foram inspirados na “Revolução do Jasmim”, que derrubou o presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, em janeiro. No Iêmen e na Jordânia também foram registradas manifestações.
(Com agência Reuters)