Ao menos duzentas mil pessoas protestam neste domingo em Kiev, contra a decisão do presidente Viktor Yanukovich de não assinar um acordo de associação com a União Europeia. Os manifestantes se reúnem na Praça da Independência, o local emblemático da revolução pró-ocidental de 2004, a chamada Revolução Laranja.
“Estamos aqui pelo futuro europeu da Ucrânia, por nossos filhos e netos. Queremos que a justiça reine em todo o mundo e que o poder deixe de roubar”, declarou à AFP um aposentado de 52 anos, Viktor Melnichuk.
“A política não me interessa, mas há tantas coisas que me deixam indignada… A gota d’água foi terem espancado estudantes”, declarou uma jovem de 26 anos, Marianna Vajniuk, referindo-se à dispersão à força no dia 30 de novembro de uma manifestação que deixou feridos, principalmente estudantes.
A tensão aumentou na Ucrânia após uma reunião na sexta-feira entre Yanukovich e o presidente russo Vladimir Putin para falar de um acordo de associação estratégica entre os dois países.
A oposição denunciou no sábado a intenção de Yanukovich de assinar este acordo com o objetivo de fazer a Ucrânia aderir à união aduaneira de repúblicas soviéticas liderada por Moscou.
“Segundo nossas informações, o projeto de acordo sobre a associação estratégica está pronto, mas Yanukovich não se atreveu a assiná-lo”, declarou no sábado Arseni Yatseniuk, um líder da oposição.
Segundo a revista The Economist, em virtude deste acordo estratégico a Ucrânia receberia bilhões de dólares em créditos e entraria na união aduaneira.
No entanto, segundo Dimitri Peskov, porta-voz do presidente russo, a adesão de Kiev à união aduaneira não foi um dos temas da reunião. A presidência ucraniana também não forneceu detalhes do encontro.
Os rumores deste possível acordo com a Rússia foram recebidos com preocupação nas fileiras da oposição, que protesta há duas semanas nas ruas.
“A manifestação de domingo pode terminar de maneira trágica se Yanukovich tiver vendido a Ucrânia”, disse o opositor Yaseniuk, aliado da opositora detida Yulia Timoshenko.
O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, classificou estas informações de “mentiras e provocações”.
No domingo passado, entre 200 000 e 500 000 pessoas, segundo as fontes, protestaram na praça depois de terem sido desalojadas à força na sexta-feira pela polícia, em uma operação que deixou dezenas de feridos, muitos deles estudantes.
No sábado, cerca de mil pessoas protestaram no mesmo local, também conhecido pelo nome de Maidan.
A Ucrânia está há mais de um ano em recessão e tem um enorme déficit público que pode levar o país à quebra, segundo analistas e investidores, que acreditam que Moscou pode abaixar o preço do gás que vende ao país se o governo ucraniano desistir de se aproximar da Europa.
(Com AFP)