Os efeitos e riscos do ‘Brexit’ para o futebol
Saída do Reino Unido da União Europeia poderá prejudicar a liga inglesa
A saída do Reino Unido da União Europeia, decidido em referendo na madrugada desta sexta-feira, certamente provocará mudanças na política e na economia – e, provavelmente, no esporte. A vitória do “Brexit” pode trazer consequências nocivas à liga inglesa de futebol, uma das mais poderosas do mundo, e também às ligas vizinhas. A maior preocupação diz respeito à licença de trabalho para jogadores estrangeiros.
No ano passado, a primeira e segunda divisões inglesas e a liga escocesa haviam tornado mais rígidas as suas normas para receber atletas de fora, para garantir que apenas jogadores de alto nível ingressassem nas ligas. Foi criada uma regra baseada na posição das seleções no ranking da Fifa: dos jogadores nascidos em países entre a primeira e a décima posição do ranking, é exigido 30% de participações nas convocações de seus países. Entre a 11ª e a 20ª posição, a exigência sobe para 45% e vai crescendo sucessivamente.
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Essa norma afetava, sobretudo, atletas sul-americanos e africanos, mas passará a valer para os atletas dos 27 países membros da União Europeia – entre as estrelas da liga, estão espanhóis, franceses, holandeses, belgas, entre outros. Segundo levantamento da BBC, mais de 300 atletas das duas divisões da Inglaterra e da elite da Escócia não cumpririam esse requisito em 2016. Por essa norma, por exemplo, o meia espanhol Juan Mata, do Manchester United, e o francês N’Golo Kanté, campeão pelo Leicester City, seriam proibidos de atuar na liga inglesa. Além disso, essa norma impossibilitaria que craques como Cristiano Ronaldo e Thierry Henry tivessem chegado à Inglaterra tão cedo, pois tinham poucos jogos por suas seleções.
O “Brexit” ainda pode prejudicar especialmente os atletas nascidos no Reino Unido e afetar a ordem de todas as ligas. O Campeonato Espanhol por exemplo, autoriza que cada equipe tenha apenas três atletas “extracomunitários” (que não pertencem a União Europeia). Com a mudança, o galês Gareth Bale passaria a contar como um estrangeiro no Real Madrid – e, assim, não haveria espaço para que ele e os brasileiros Casemiro e Danilo, e o colombiano James Rodríguez atuassem na equipe numa mesma temporada.
Haverá ainda uma mudança em relação aos jovens atletas. Pelas normas da Uefa, apenas países da União Europeia podem contratar jogadores entre 16 e 18 anos. A Inglaterra é um dos países que mais contrata promessas – como ocorreu com Cesc Fàbregas, no Arsenal, e Gerard Piqué, no Manchester United .
Outra possibilidade que assusta os cartolas da Premier League (que desde o início, se posicionou contra o “Brexit”) diz respeito ao poder de compra de seus clubes. Atualmente, clubes ingleses são capazes de competir financeiramente com os gigantes do continente (Barcelona, Real Madrid e Bayern de Munique), mas, caso o Reino Unido seja afetado por uma crise econômica e a libra se desvalorize, a Premier League pode perder espaço. Na Itália, por exemplo, a crise econômica afetou diretamente o futebol nos últimos anos.
Vale ressaltar, porém, que as mudanças não terão efeito retroativo (valerá apenas para negociações futuras) e que a saída do Reino Unido deverá levar ao menos dois anos para ser implementada. Até lá a Premier League terá tempo suficiente para analisar seus possíveis efeitos e adaptar suas normas. De qualquer forma, assim como na política e na economia, o clima de incerteza já toma conta dos gramados britânicos.
(da redação)