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As bravas atiradoras iranianas nos Jogos Militares

Exigência de véu e roupa que cobre o corpo todo faz do tiro a única modalidade em que as mulheres podem competir no Irã

Por Flávia Ribeiro, do Rio de Janeiro
19 jul 2011, 19h10

Durante o desfile das delegações na cerimônia de abertura dos Jogos Mundiais Militares, sábado passado no Engenhão, uma mulher chamou a atenção. Nasrin Jabbari, técnica da equipe feminina do Irã, carregava a bandeira do país vestida com um xador, véu que a cobria inteira, da cabeça aos pés, deixando apenas rosto e mãos de fora. Atrás, entre os atletas, três mulheres também desfilavam completamente cobertas. Elaheh Ahmadi, 29 anos, Safieh Sahragard, 26, e Narjes Enangholinejad, 27, formam a seleção iraniana feminina de tiro, que ficou em 13º lugar por equipes na disputa de hoje de carabina deitada de 50 metros – a Alemanha ganhou a medalha de ouro e o Brasil ficou em 11º lugar.

As três voltam ao estande do Centro Nacional de Tiro Esportivo amanhã, para as provas individuais, onde o destaque deverá ser Ahmadi, melhor atiradora iraniana, já classificada para as Olimpíadas de Londres no ano que vem. Ahmadi é tenente do Exército, assim como Narjes, enquanto Safieh é tenente da polícia. Vestidas com o khimar, um véu mais curto do que o da treinadora, calça e camisa de malha e um vestido por cima, são as únicas atletas do Irã – país persa de religião muçulmana – nos Jogos, o que pode ser explicado justamente pelas exigências de indumentária do país.

“As mulheres no Irã praticam vários esportes, eu mesma jogo tênis quando não estou treinando tiro. Só que é difícil para uma atleta iraniana evoluir por causa do véu, a roupa restringe os movimentos. No tiro, não atrapalha em nada. Por isso optei por ele”, explica Narjes, que atira há três anos. Apesar das dificuldades, Narjes afirma que não se incomoda com o véu. “Todas usam, é obrigatório, então acaba virando um hábito”, diz ela, antes de sorrir e comentar que também é adepta do alpinismo: “Dá até para escalar montanhas. Mas aí o vestido sobre a roupa é um pouco mais curto…”.

Mais de 60% dos estudantes universitários iranianos são mulheres. Em seu país, elas trabalham e podem dirigir livremente, como Narjes faz questão de salientar: “Se você for ao Irã, vai ver que nós levamos uma vida normal, só que com o véu”. Em casa, a atiradora deixa os cabelos à mostra. Conta que as regras da rua não se aplicam aos lares. “Depende de cada família, em algumas até em casa as mulheres usam véus, em outras não. Eu não uso diante de meu pai, irmãos, tios e primos”. Perguntada sobre se usa na frente de amigos quanto está em casa, Narjes apenas sorriu.

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O sorriso, por sinal, é constante nos lábios das meninas do Irã. Até quando percebem que os olhares estão fixos em suas roupas, em viagens para competições em países ocidentais. “Talvez os olhares incomodem quem não acredita no véu. Eu acredito no Islã, então não me incomodo. Sorrio e nem percebo”, diz Narjes, enquanto passa ao lado da equipe feminina de Bahrein, todas também de véu, e lembra que há atletas de outros esportes de Bahrein nos Jogos Mundiais Militares: “No país delas, o véu não é regra, então facilita para outras atividades”.

O véu como opção – Dos 50 atletas que Bahrein trouxe para disputar os Jogos Mundiais Militares, 12 são mulheres, distribuídas em atletismo, esgrima, vela, taekwondo e tiro. Nem todas são muçulmanas, nem todas usam o véu. Não há uma lei em seu país que exija que usem. As sargentos da polícia Lulwa Alzayani, Aysha Hamad e Azza Alqassim, todas atiradoras de 26 anos, vestem a hijab – uma espécie de lenço com que cobrem os cabelos, o mais leve dos véus muçulmanos – porque querem.

“No meu país, não há obrigatoriedade. Temos pessoas de várias religiões lá, não apenas muçulmanos, cada uma com seu costume. Usar ou não o véu é uma decisão entre você e Deus. O Islã está no coração”, diz Azza. Aysha afirma que o véu não atrapalha no tiro e confirma o que a companheira de equipe disse: “É uma escolha”, diz ela. As três entraram para a Academia de Polícia da cidade de Riffa há oito anos e, durante o curso, descobriram a vocação e a precisão no tiro. Desde então, treinam de quatro a cinco horas por dia. E, com outras 12 mulheres, formaram a primeira seleção feminina de tiro do Bahrein, há seis anos. A equipe ficou hoje em 12º lugar na classificação geral.

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