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‘As Noites Brancas do Carteiro’ contempla a vida perdida

Filme do russo Andreï Konchalovsky ganhou o prêmio de direção em Veneza

Por Simone Costa
26 out 2014, 19h35

O maior mérito do filme está em mesclar ficção e documentário

Em um vilarejo esquecido no norte da Rússia, a única conexão com o resto do país é o carteiro Lyokha (Aleksey Tryapitsyn). É de barco que ele vai e volta do posto dos correios mais próximo, onde busca não apenas correspondências para os moradores, como também o pagamento de suas aposentadorias. Nesse vai e vem, Lyokha aproveita para comprar pão, remédios e algo mais de que os moradores necessitem. Naquele lugarejo não há nada. A pesca e o cultivo de algumas plantações são as únicas atividades por ali. É a rotina de Lyokha – e a quase falta dela na vida dos outros moradores – que o público acompanha em As Noites Brancas do Carteiro (Belye Nochi Pochtalona Alekseya Tryapitsyna, Rússia, 2014), longa que rendeu o prêmio de melhor direção no Festival de Veneza a Andreï Konchalovsky.

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O maior mérito do filme, provavelmente o que mais pesou para que Konchalovsky fosse premiado em Veneza, está em mesclar ficção e documentário. A maioria dos personagens é formada por verdadeiros moradores do vilarejo interpretando uma versão deles mesmos. É esse o caso do carteiro Lyokha. Aleksey Tryapitsyn é de fato carteiro, mas sua atuação é tão convincente que é difícil acreditar que ele não seja ator. O carteiro passa o dia indo de casa em casa, sempre muito atencioso e simpático com os moradores, que confiam nele para atender as necessidades que só podem ser resolvidas fora daquele lugar. Uma das poucas atrizes recrutadas para o filme é Irina Ermolova. No papel de uma personagem homônima, ela é uma ex-colega de escola de Lyokha. Apaixonado por ela, ele sempre passa por sua casa para tomar um chá. Sua presença ali é muito bem vista pelo garoto Timur (Timur Bondarenko), filho de Irina. Com Timur, se dão algumas das melhores interações de Lyokha.

Ao retratar aquela pequena aldeia, Konchalovsky parece sugerir que seu fim está próximo. Ela não resistirá por muito tempo. Antes, havia até mesmo escola ali. Hoje não há mais e para que Timur possa estudar – uma das poucas crianças do lugar – sua mãe pensa em ir embora. Lyokha leva o garoto para visitar as ruínas da escola e também retorna ali em sonho. Naquela falta de sentido para a vida, o que resta é a vodca. Lyokha, na verdade, deixou de beber dois anos antes e, apesar de ver suas raízes se esvaindo, ele se sente atordoado quando está longe dali.

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Para alguns críticos, o filme de Konchalovsky peca pela superficialidade, por não explorar mais os sentimentos dos moradores em relação ao passado e maneira como veem o presente e o futuro. Ainda assim, é prazeroso acompanhar Lyokha em sua rotina. Em uma das belas cenas, ele atravessa as águas plácidas que tem de percorrer todos os dias e ao som do motor se junta a música eletrônica de Eduard Artemev. A música também cria um delicioso suspense quando o carteiro leva Timur para tentar ver uma tal figura mitológica que vive nas águas. No mais, é o dia a dia mudando dos moradores. Ainda que atuando, muitas vezes eles foram filmados por câmeras escondidas para que se soltassem e soassem mais descontraídos. Ainda que se diga que é um retrato superficial daquela realidade que parece prestes a desaparecer, o longa é um bom convite a contemplação da linda fotografia de Aleksandr Simonov e da excelente atuação de Timur Bondarenko e Aleksey Tryapitsyn.

Serviço:

27/10 às 16h15 – Cine Sabesp

Rua Fradique Coutinho, 361 – Tel: (0/xx/11) 5096 0585

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