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‘O Segredo das Águas’: inconsistente, filme custa a passar

Para a diretora japonesa Naomi Kawase, esta é a sua obra-prima, um filme que merecia, inclusive, a Palma de Ouro. O problema é que sobra pretensão

Por Simone Costa
20 out 2014, 09h14

Num dia de festejos tradicionais na ilha japonesa de Amami-Oshima, Kaito encontra um corpo boiando no mar revolto. Instrospectivo e não muito feliz, o adolescente se torna ainda mais fechado depois desse acontecimento. Este é ponto de partida de O Segredo das Águas (Futatsume no Mado, Japão, 2014), filme da diretora japonesa Naomi Kawase. No longa, que tem última apresentação nesta segunda-feira na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Kaito mora com a mãe, uma garçonete, e se ressente que o pai a tenha deixado para viver em Tóquio. Os únicos momentos em que o garoto sai de sua redoma é quando encontra a namorada, Kyoto. Ainda assim, ele não consegue se envolver como ela gostaria – ele responde “obrigado” quando ela diz que o ama – e isso tem a ver com a relação que ele mantém com a mãe. Aquele corpo que surge no mar é o que pode levar Kaito a se transformar.

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Reflexões sobre vida e morte são temas recorrentes na obra de Naomi Kawase. E eles sempre vêm acompanhados da natureza, como símbolo de força mística e transformadora. Para isso, não poderia existir cenário mais perfeito que Amami-Oshima. A ilha ao sul do Japão propiciou imagens magníficas de altas ondas que arrebentam na praia e de uma vegetação densa que cobre o lugar de um verde exuberante. Naquele ambiente, a mãe de Kyoto enfrenta uma doença terminal, acompanhada pela filha, que canta, e por amigos que tocam, tentando animá-la. Tudo isso cria um clima envolvente e tocante, mas O Segredo das Águas soa artificial.

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Para a diretora, esta é a sua obra-prima, um filme que merecia, inclusive, a Palma de Ouro. O problema é que sobra pretensão. Naomi Kawase se propõe a fazer uma discussão que não se concretiza, não se resolve bem. Para alguns críticos, o problema é a escalação do elenco: ela põe atores ainda inexperientes em papéis-chave. O fato é que, em alguns momentos, há mesmo a sensação de que os dois jovens atores, Jun Yoshinaga (Kyoto) e Nijirô Murakami (Kaito), não sabem como se portar diante da câmera , e que falta orientação que os leve a um resultado mais denso. A opção por uma direção “naturalista” exige atores mais tarimbados. Ela funciona, por exemplo, com Tetta Sugimoto – do elenco de A Partida, ganhador do Oscar de Melhor filme estrangeiro de 2009. No papel do pai de Kyoto, ele é quem mais convence.

https://youtube.com/watch?v=MPIQ80wMkdM

Fãs de Naomi Kawase podem pensar que ela fez um grande filme, mas basta olhar para as respostas – ou pistas – não dadas para enxergar o que ela poderia ter feito melhor.

Com personagens tão sem substância, nos pegamos repetindo a pergunta que Kaito faz quando assiste a uma cabra sendo abatida: “Quanto tempo vai demorar?” Ao querer levantar questões sobre a vida, a morte e as nuances do sexo e do amor, a diretora deveria pegar por outros caminhos em vez de apenas lançar perguntas velhas e vagas como “Por que nascemos e morremos?” e conclusões como “Essas crianças não sabem o que há no mar”, frase dita pelo velho que aparece à beira da água para dar conselhos aos adolescentes. Nem nós sabemos.

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Serviço:

Nesta segunda, às 21h50 – Espaço Itaú de Cinema – Augusta 1

Rua Augusta, 1.475 – Cerqueira César – Tel: (0/xx/11) 3288-6780

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