Governo banca 1/3 de cursos privados com Fies
Até 2033, governo pagará 17,6 bilhões pela dívida de 1,9 milhão de alunos, valor que deverá ser quitado com dinheiro de contribuintes
As baixas taxas de juros cobradas pelo governo federal desde 2010 para empréstimos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) fazem com que o governo banque um terço do valor total dos cursos nas universidades particulares para 1,9 milhão de estudantes. Como o prazo para o início do pagamento é de no mínimo cinco anos, a diferença começará a ser sentida nos cofres públicos em 2016. Significa, na prática, que dos 15 bilhões de reais sugeridos no orçamento deste ano para o Fies, menos de 10 bilhões de reais voltarão aos cofres públicos até 2033.
A dívida somada de cada um desses 1,9 milhão de alunos é estimada hoje em 58,8 bilhões de reais, considerando financiamento médio de 645 mensais de reais, como calculado pela CM Consultoria, a partir dos dados do anuário da Hoper Consultoria. Mesmo que todos paguem integralmente os empréstimos e a taxa de inadimplência seja zero, o déficit total só desses alunos ultrapassará 17,6 bilhões de reais – a ser bancado pelos contribuintes até 2033.
Há cinco anos, o governo federal relaxou as regras para incentivar novas adesões, passando de 6,5% para apenas 3,4% de juros ao ano – o que corresponde a quase metade da média da inflação nos últimos três anos. Quando a inflação é maior que os juros cobrados, o governo recebe do aluno menos do que pagou inicialmente à faculdade, uma vez que o real se desvalorizará mais do que os juros cobrados compensarão.
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Como o período de pagamento foi alongado para três vezes a duração do curso mais um ano, além de 18 meses de carência, essa diferença vai aumentando mês a mês até atingir o valor de um terço do curso, com a inflação continuando no mesmo patamar que a atual. Os valores fazem parte de uma simulação feita pelo jornal O Estado de S.Paulo, usando como base um curso de quatro anos com mensalidade de 645 reais.
Considerando um cenário com inflação de 6,1% ao ano, o governo terá bancado quase 10.000 de reais em subsídios até 2033 em valores atuais, o que corresponde a 30% do valor total do curso de 33.000 de reais. A perda nos cofres – que o governo admite como subsídio e investimento em educação – fica ainda maior se o cálculo levar em consideração o custo federal para captar recursos no mercado financeiro e rolar sua dívida, que acaba bancando diversos gastos, incluindo o próprio Fies.
Atualmente, o Tesouro paga juros de 12% ao ano nos seus títulos. Se esse desembolso for colocado na conta, o governo federal está gastando praticamente todo o valor do curso para cada aluno que adere ao financiamento – serão 30.000 de reais em valores correntes até o fim do prazo de financiamento. Na prática, dois terços dessa perda viram lucro nas mãos do investidor que colocou seu dinheiro para render no Tesouro.
(Com Estadão Conteúdo)