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Senado deve reeleger Renan, que se igualará a Sarney

Atual presidente da Casa é o candidato oficial do PMDB, que tem direito ao cargo por ter a maior bancada. Mas terá de enfrentar colega de partido

Por Gabriel Castro, de Brasília
1 fev 2015, 07h25

O Senado Federal deve eleger na tarde deste domingo seu novo presidente – ou nem tão novo assim. O alagoano Renan Calheiros (PMDB) é favorito ao cargo pela quarta vez, a segunda consecutiva. Assim, ele se igualará a José Sarney (PMDB-AP) em número de mandatos à frente da Casa.

Ao contrário do que ocorreu na Câmara dos Deputados, a disputa eleitoral no Senado ficou apenas nos bastidores. A campanha de Renan foi quase uma anticampanha: baseou-se em conversas a portas fechadas enquanto, publicamente, o peemedebista tergiversava sobre a sua candidatura à reeleição. Não havia adversários.

Somente na última semana é que surgiu um desafiante dentro da própria bancada de Renan: Luiz Henrique (PMDB-SC), um dos senadores da ala independente do partido, lançou seu nome com o apoio de sete lideranças partidárias. O experiente parlamentar de Santa Catarina aposta no temor de que Renan seja varrido pela Operação Lava Jato, que investiga os desvios na Petrobras. Com o voto secreto, Luiz Henrique diz acreditar até mesmo que vai obter o apoio de petistas insatisfeitos com Renan. Luiz Henrique espera ter 45 votos. Dificilmente conseguirá. Mas o arco de legendas que lhe declararam apoio – DEM, PSDB, PP, PSB, PDT, PSOL, PPS – deve fazê-lo ultrapassar a barreira dos 30 votos. Na eleição de 2013, Renan Calheiros obteve 56 votos contra 18 de Pedro Taques (PDT-MT).

Dentro do PMDB, que é dono da maior bancada e por isso tem direito a permanecer na Presidência, a ala pró-Luis Henrique é minoritária. Na reunião em que a bancada decidiu sua posição na disputa, na tarde de sexta-feira, Renan teve 15 dos 19 votos. Luiz Henrique será, assim, candidato avulso. “O Regimento prevê candidaturas avulsas, mas a indicação da bancada é a do senador Renan Calheiros”, afirmou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), após o encontro.

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O candidato dissidente promete não voltar atrás: “É irreversível. Não sou dono da candidatura. Existe um sentimento de mudança e eu vou até o fim”, diz Luiz Henrique. Após a decisão da bancada de seu partido, Renan reconheceu a candidatura pela primeira vez em público e criticou a decisão do colega: “O Congresso não caminha por projetos pessoais, por candidaturas avulsas. É preciso ter cuidado para fundamental não revogar as normas que fazem com que o Parlamento caminhe”.

Apesar dos apoios declarados dos dois lados, o voto secreto pode causar surpresas. A vitória certa de Renan pode ser ameaçada se a bancada do PT, que ainda não definiu seu apoio na disputa, optar por não apoiá-lo.

Para o governo, a continuidade é o caminho mais seguro. Embora tenha acenado com propostas ruins para o governo Dilma, como o projeto que dá independência ao Banco Central, o presidente do Senado nunca foi adiante: acabou cedendo em troca, por exemplo, da nomeação de algum aliado em um posto de comando da administração federal. Experiente e habituado a comandar o Senado, Renan é uma opção mais previsível do que Luiz Henrique – que em 2010 apoiou o tucano José Serra contra Dilma Rousseff. Não é que o atual presidente seja um governista convicto: Renan pensa, em primeiro lugar, na própria sobrevivência. Mas, normalmente, isso exige dele que atenda os interesses do Planalto.

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O senador de Alagoas teve um papel importante na aprovação da manobra fiscal na qual o governo abriu mão da meta de superávit fiscal para 2014. Além de agir para acelerar a votação e desmobilizar os oposicionistas, Renan fechou o acesso às galerias para evitar que manifestantes acompanhassem a votação. Um pequeno grupo que havia entrado no local antes do bloqueio começou a ser retirado, também por determinação do presidente do Senado. Como a oposição se mobilizou para impedir a remoção, o impasse se criou e os trabalhos foram suspensos. No dia seguinte, entretanto, com o Congresso sitiado a pedido do peemedebista, os parlamentares aprovaram a matéria.

Em 2013, quando voltou a disputar a Presidência do Senado seis anos após ter renunciado do cargo em meio a denúncias de corrupção, Renan foi duramente contestado por colegas; a ascensão de um nome de passado conturbado, argumentavam eles, reduziria o já abalado prestígio da Casa. Mas, como único candidato do PMDB – o partido que tinha direito ao cargo por causa do critério de proporcionalidade -, saiu vitorioso. Já não importava se um lobista vinculado à empreiteira Mendes Júnior havia pago a pensão alimentícia do filho que Renan tivera com uma amante, como revelou VEJA.

É verdade que, no ano passado, Renan foi flagrado usando um avião da Força Aérea para viajar à Bahia e comparecer a um casamento. Mas a terceira passagem dele pela presidência do Senado foi pouco conturbada no quesito corrupção. Além disso, o peemedebista assumiu o cargo em 2013 disposto a resgatar sua biografia – na medida do possível. Por isso, adotou medidas de transparência e cortou 262 milhões em gastos, de acordo com as próprias contas. Também se deve a Renan, após uma determinação da Justiça, é verdade, a retomada da rotina da apreciação de vetos pelo Congresso. Havia mais de 3.000 deles esperando votação, alguns ainda do governo Fernando Henrique Cardoso. O Parlamento limpou a gaveta e tem apreciado com alguma regularidade os vetos mais recentes.

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A corrupção deve ficar em segundo plano no debate eleitoral de domingo. Luiz Henrique não pretende explorar as fraquezas éticas do adversário. E, apesar de ter sido mencionado pelo delator Paulo Roberto Costa como um dos beneficiários dos desvios na Petrobras, Renan Calheiros ainda pode argumentar que não surgiram elementos concretos de que ele participou do esquema. Assim, ele deve chegar sem sustos ao comando do Congresso pela quarta vez.

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