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PSOL abandona o radicalismo para tentar crescer

Partido fundado por ex-petistas disputa duas capitais no segundo turno

Por Jean-Philip Struck
20 out 2012, 19h21

Seis anos após a sua fundação, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), partido fundado por políticos expulsos ou que deixaram o PT desiludidos com o estouro do mensalão, cresceu e tem a chance de pela primeira vez em sua recente história, sair das urnas no próximo dia 28 comandando uma cidade de destaque. Ao mesmo tempo, o curso das campanhas municipais deste ano mostrou uma sigla mais mansa e disposta a fazer alianças que seis anos antes eram vistas como injustificáveis.

Os métodos já estão provocando brigas na “família socialista” e alguns radicais passaram a temer que o crescimento do Psol possa mudar os rumos ideológicos do partido.

Nestas eleições, o PSOL dobrou o número de vereadores eleitos, passando de 25 para 49 e elegeu seu primeiro prefeito – na pequena Itaocara, município de 22.000 habitantes, no interior do Rio de Janeiro. As grandes apostas da legenda, entretanto, são as disputas em segundo turno em duas capitais: Belém (PA) e Macapá (AP).

Militantes compararam os resultados com do PT em 1982, quando a sigla conquistou sua primeira prefeitura, em Diadema (SP).

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Na capital fluminense, puxado pela visibilidade da candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo, o Psol conseguiu eleger quatro vereadores, mesmo número do PT, a segunda maior bancada da Câmara Municipal.

O PSol nas disputas municipais
2008 2012
Vereadores 25 49
Prefeito Nenhum 1 (Itacoara – RJ)
2º Turno Nenhum Belém e Macapá

Segundo turno – Nas capitais onde disputa o segundo turno, o PSOL se beneficiou com a derrocada do prestígio dos atuais prefeitos, envoltos em acusações de corrupção, e do esvaziamento de candidaturas do PT. Mas também cresceu ao adotar um discurso “light”, mais municipalista e voltado para as cidades, com menos referências a um projeto nacional.

Em Belém, o PSOL disputa o segundo turno com Edmilson Rodrigues, um ex-petista que governou a cidade por dois mandatos bem avaliados nos anos 90. Na época, ele era filiado ao PT, partido que deixou em 2005 na esteira do mensalão. Conforme a campanha avançou, ele deixou de lado algumas bandeiras do PSOL, como o calote da dívida e o corte de cargos de confiança na máquina municipal. Também baixou o tom antipetista e passou a defender programas federais como o Minha Casa, Minha Vida e disse que pretende conseguir recursos com o governo federal, mesmo que o seu partido faça oposição à gestão de Dilma Rousseff.

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Outra novidade: 82% dos cerca de 476000 reais arrecadados pela campanha de Rodrigues foram bancados por empresas, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), fugindo da tradição da maioria das campanhas do PSOL, onde os recursos são dominados por doações de pessoas físicas.

Linha partidária – Para o presidente nacional da sigla, o deputado Ivan Valente (SP), no caso dos municípios, o PSOL não vai seguir exatamente a receita de oposição barulhenta ao governo federal e aos partidos que dominam os governos estaduais. “É preciso trazer recursos, investir nessas cidades. Não dá para ser intransigente. A população espera um bom relacionamento”, diz Valente.

A tática deu certo em Belém, e Edmilson Rodrigues conseguiu 32,58% dos votos no primeiro turno. Mas os métodos irritaram membros mais radicais do partido e a briga se tornou pública. “O risco que corremos é o de que o PSOL se descaracterize completamente”, diz uma nota distribuída nesta semana e assinada por 13 membros de uma tendência do partido chamada Corrente Socialista dos Trabalhadores, que é liderada pelo ex-deputado Babá.

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Os insatisfeitos reclamam, sobretudo, da aliança que a candidatura fez com o PC do B, que indicou o vice de Rodrigues. Para os puristas do partido, o PC do B é o “partido do agronegócio”. “A vitória de Edmilson tem que ser uma vitória dos de baixo, da cidade celebrando a tradição da resistência tupinambá e a revolução cabana”, dizem os dirigentes.

Macapá – Já em Macapá, o PSOL está na disputa do segundo turno com o vereador Clécio Luís. É um apadrinhado do senador Randolfe Rodrigues, único senador e uma das estrelas do partido por causa da sua atuação na CPI do Cachoeira. Nos últimos meses, Clécio tem vinculado insistentemente seu nome ao do senador, que é bastante popular no estado. Seu rival é o atual prefeito, Roberto Góes (PDT), um político ligado ao grupo do senador José Sarney (PMDB) e que chegou a ser preso no meio do mandato por causa de acusações de corrupção.

Mas a comemoração com a chegada ao segundo turno, e a união contra um concorrente polêmico foi logo deixada de lado. O episódio expôs mais fraturas ideológicas no próprio PSOL Tudo porque um candidato derrotado no primeiro turno que faz parte do DEM – outro inimigo do partido – anunciou que apoiaria Clécio no segundo turno. Foi uma adesão pessoal, e dirigida contra Góes, mas foi o suficiente para provocar gritaria nas fileiras mais “puras” do PSOL.

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Um grupo de 34 dirigentes do PSOL, entre eles a ex-deputada Luciana Genro, assinou e divulgou uma nota em que repudiou a associação com o DEM. “Se esta aliança se mantiver, representará uma mancha que envergonhará e indignará todo o PSOL”, disse a nota.

O diretório cearense disse que a atual política do PSOL em Macapá é “suicida”. Parte da raiva se voltou contra o senador Randolfe Rodrigues, que foi acusado de incoerência por aceitar apoio do DEM ao mesmo tempo em que ganhou fama como um dos algozes do ex-senador Demóstenes Torres. “Nossos adversários espalharam essa história de aliança com o DEM. Não existe nada disso, é um apoio pessoal. Infelizmente alguns membros do PSOL não procuraram se informar”, disse Randolfe.

O senador diz que as críticas são provocadas pelo “medo do crescimento”. “É esquizofrênico. Alguns membros parecem ter medo de assumir governo, de participar de disputas políticas para valer. Não podemos ter vocação para ser um PSTU”, disse o senador, citando o minúsculo partido de esquerda de linha trotskista e leninista que nunca alcança resultados eleitorais expressivos.

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Randolfe também afirma que as tendências críticas aos métodos utilizados em Macapá e Belém são minoritárias no PSOL. “Não passam de 30% do partido.”

Briga – As trocas de farpas públicas entre os dirigentes “puros” e o PSOL amapaense também irritaram o presidente Ivan Valente. “Eles [os críticos] deveriam estar comemorando nossos resultados, fazendo um balanço positivo. É a primeira vez que disputamos um segundo turno. Foi uma luta árdua. Seria melhor que o debate tivesse sido interno”, disse Valente, que credita parte das críticas à luta entre as tendências do partido.

“É lógico que cada uma dessas cidades tem particularidades. Em Macapá se trata de tirar um prefeito praticamente condenado. O segundo turno é uma coisa diferente, como vamos recusar apoios?”, diz Valente.

Segundo o presidente do diretório paulista do PSOL, o vereador de Campinas Paulo Bufalo, a sigla não corre o risco de virar um “novo PT” com o crescimento. Em São Paulo, o PSOL disputou o primeiro turno com o deputado Carlos Giannazi, mas a candidatura não empolgou parte do eleitorado como a de Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro.

“O partido tem mantido o diálogo e respeita as diferenças entre os seus membros. Não vai ter o mesmo destino de outros partidos de esquerda, como vimos por aí”, disse Bufalo.

Segundo o cientista político e Cesar Romero, da PUC do Rio de Janeiro, o PSOL só vai conseguir crescer ainda mais nos municípios se não seguir uma linha rígida ou de forte oposição, como faz no Congresso. “Você só pode se manter puro se for somente um partido parlamentar. No executivo é preciso negociar, fazer alianças, tratar com outros grupos”, disse Romero.

Para o presidente Valente, os dirigentes devem realizar um balanço depois do segundo turno para discutir as diferenças que surgiram nestas eleições. “Não há nada disso do partido estar desmoronando por causa de diferenças. Esse é um ótimo momento”, disse Valente. “O importante agora é ganhar as eleições.”

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