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Pagot repete na Câmara estratégia usada no Senado: nega tudo e poupa o PT

"Se eu tiver alguma coisa para responder, eu vou responder. Se alguma coisa errada eu fiz no Dnit, eu vou responder com meu patrimônio", disse o diretor

Por Gabriel Castro
13 jul 2011, 12h01

O diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, usou no depoimento à Câmara Federal a mesma estratégia usada na terça-feira no Senado: negar irregularidades nos contratos firmados entre o órgão e empreiteiras e poupar o PT de qualquer acusação. A tática já era prevista. Ele dedicou sua fala de abertura nesta quarta-feira a explicações técnicas sobre o funcionamento do Dnit. Reclamou da falta de funcionários, da estrutura inadequada do órgão e das exigências ambientais para a realização de obras. Não entrou, no entanto, no tema mais importante: as denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes. Pagot lançou mão de um tom mais sentimental para rebater as acusações: “Se eu tiver alguma coisa para responder, eu vou responder. Se alguma coisa errada eu fiz no Dnit, eu vou responder com meu patrimônio. A minha família é que vai sofrer”, afirmou. Foram quase oito horas de depoimentos. O diretor do Dnit demonstrou paciência para repetir argumentos à exaustão. Ele também voltou a dizer que as irregularidades no Dnit são isoladas: “O Dnit pode ter problemas de irregularidades, de corrupção. Cada ato irregular está sendo respondido em processos administrativos. Teve gente que saiu algemada do Dnit. São pessoas, são ilhas, são coisas isoladas. Não é o Dnit total”. Alguns parlamentares relataram casos de má aplicação de recursos públicos por parte do Dnit: estradas inacabadas, obras com preço suspeito e empreendimentos de baixa qualidade. Pagot reconheceu a necessidade de melhorias na gestão do departamento: “As mudanças estão acontecendo. Pode ser que estejam acontecendo lentamente, e também há uma indignação da minha parte, mas estão acontecendo”. Após a primeira pergunta, feita pelo deputado Edson Giroto (PR-MS), Pagot justificou o aumento no preço de obras para rechaçar as acusações de superfaturamento. “Nós temos vários instrumentos que crescem o valor das obras, todos eles previstos na própria lei de licitações.” Ele insistiu que as decisões do Dnit são tomadas por um colegiado e cutucou Paulo Sérgio Passos, recém-empossado Ministro dos Transportes. “O secretário-executivo era responsável pelo conselho de administração do Dnit, que é o órgão superior do Dnit. E vota também. Como secretário-executivo, inclusive, tem o voto de minerva nesse conselho.” Pagot, por outro lado, justificou o fato de o petista Hideraldo Caron ser responsável por 90% das obras do Dnit. “Ele é o diretor de infraestrutura rodoviária, responsável pela pavimentação e manutenção de 56 mil quilômetros de rodovias”, disse Pagot, que também afirmou ter o desejo de permanecer no cargo após retornar de suas férias. Tensão – O primeiro momento de tensão da reunião surgiu quando o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) surpreendeu Pagot ao apresentar um documento pronto, em que o diretor coloca seu sigilo bancário à disposição. Pagot aceitou assinar o texto. Mas parlamentares do PR protestaram, na tentativa de blindar o diretor – que é filiado ao partido. “Isso é CPI?”, indagou Girotto. A veemência das perguntas de Macris destoou do tom dos demais parlamentares na comissão, onde o governo tem larga maioria. O deputado Wellington Roberto (PR-PB) se queixou do tucano, que ironizou: “O deputado Wellingon está muito incomodado com as minhas perguntas. Não sei por que.” Pagot desautorizou o colega de partido e se dirigiu a Macris: “Eu não me senti constrangido pelas suas perguntas. Acho que é seu dever”. O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) perguntou se Pagot mantinha contato telefônico com donos de empreiteiras. O diretor do Dnit confirmou, alegando que conversa com os empresários para monitorar o andamento das obras. O parlamentar também quis saber do patrimônio de Pagot, que admitiu: tem uma pequena propriedade rural em Itacoatiara (AM) e acumulou mais de 2.000 cabeças de gado em Mato Grosso, em terras arrendadas. Francischini, que é delegado da Polícia Federal, disse temer pela segurança do diretor do Dnit e sugeriu que ele procurasse o Programa de Proteção à Testemunha. Partido – Pagot voltou a negar que tenha usado o Dnit para arrecadar dinheiro para o PR ou que tenha aparelhado o órgão com filiados do partido. “Não nos envolvemos em doações de campanha. O PR não é diferente de nenhum outro partido no Brasil. Nas épocas de campanha, os partidos têm necessidade de receber recursos para fazer frente aos gastos de campanha, mas o Dnit não trabalha nessa linha de atuação”, disse. “Dos 2.830 funcionários do Dnit, só 28 têm filiação partidária”. Pagot confirmou ter se reunido, durante duas horas, com empresas de consultoria, conforme revelado por VEJA. Mas negou ter pedido propina para abastecer o caixa do PR. Pauderney Avelino (DEM-AM) perguntou o que ele tinha a dizer sobre as declarações de Cid Gomes, que reclamou do atraso de obras no Ceará e falou que havia uma quadrilha no Dnit. Pagot disse que, de fato, foi descoberto um esquema de desvios no Ceará e as obras foram paralisadas. “O governador Cid Gomes tem razão nas suas observações. Ele perde a razão quando ele nos xinga. Perde a razão colocando o Dnit como um todo como uma quadrilha.” A audiência teve início pouco antes das 10h, em reunião conjunta com a Comissão de Viação e Transportes. Um dia antes, Luiz Antonio Pagot esteve no Senado, em sessão das comissões de Infraestrutura e Meio Ambiente. À ocasião, o diretor do Dnit – envolvido no esquema de corrupção que funciona no Ministério dos Transportes, revelado por VEJA – apenas se defendeu, e não fez novas acusações.

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